O Bison Bank (antigo Banif Investimento) concluiu este mês um aumento de capital de 19 milhões de euros, que foi subscrito pelo seu acionista, o grupo chinês Bison, sediado em Hong Kong. Numa entrevista ao Jornal Económico, realizada remotamente, o CEO Bian Fang faz um balanço da atividade do banco e mostra-se otimista quanto ao futuro, tendo em conta as perspetivas abertas pelo novo acordo de comércio entre a União Europeia e a China. Bian Fang antecipa mais investimento chinês em empresas portuguesas e europeias, sobretudo em áreas ligadas às novas tecnologias. “A UE tem vantagens comparativas em tecnologia avançada de fabrico e produção: o levantamento das barreiras ao investimento vai facilitar a expansão de investimento das empresas chinesas em sectores de alta tecnologia e a aprofundar a cooperação com empresas da UE”, defende.
O Bison Bank concluiu um aumento de capital de 19 milhões de euros na semana passada. Quem subscreveu esta operação? Há novos investidores?
O aumento de capital social foi realizado e concluído pelo acionista único do banco [o Bison Capital Financial, que por sua vez é detido pela Bison Capital Holding Company, com sede em Hong Kong]. Não há novos investidores estratégicos na estrutura acionista do banco.
Qual a vossa estratégia para os próximos anos? Como pretendem crescer em Portugal e na Europa?
O Bison Bank é um banco europeu totalmente detido por capitais privados chineses de Hong Kong e está focado em fornecer uma vasta e especializada gama de serviços financeiros de wealth management, banco depositário e custódia e banca de investimento a clientes particulares e institucionais, através de uma plataforma que liga mercados europeus a outros mercados, em particular a Ásia.
No que diz respeito aos serviços de wealth management do banco, prevê-se um aumento das receitas provenientes dos clientes internacionais e do cross-selling de serviços de wealth management e produtos com clientes de banco depositário e custódia, referenciados maioritariamente por parceiros europeus, asiáticos e internacionais. Para conseguir uma aumento sustentável, esta linha de negócio deverá alargar a sua base de clientes, nomeadamente através dos que têm perfil de investimento em wealth management e interesse em execução de ordens (brokerage). Os clientes portugueses que procuram uma abordagem diferenciada, flexível e altamente profissional, nomeadamente os que procuram o tipo de produtos e serviços internacionais com flavour asiático, também estão dentro do target.
O banco pretende continuar o crescimento progressivo dos serviços de banco depositário e custódia, estando simultaneamente consciente de que o potencial a longo prazo será limitado pela dimensão do mercado interno. A objetivo é também orientar este serviços para gestoras de ativos de pequena e média dimensão que procuram uma equipa dedicada, comissões competitivas e um elevado nível de serviço. Esta linha de negócio pretende crescer também ao servir como banco custodiante para pedidos de imigrantes ao abrigo do regime dos Vistos Gold através de fundos de capital de risco e fundos de investimento. Uma prioridade para os próximos anos será estabelecer parcerias com clientes corporate na Ásia que tenham uma base de clientes de retalho com necessidades bancárias estrangeiras, que o Bison Bank possa satisfazer.
O negócio de banca de investimento do banco pretende continuar a desenvolver o seu distinto registo em operações de mercados de dívida, que tem sido impulsionado pela forte procura de emissões de dívida asiática na Europa. Esta linha de negócio irá continuar empenhada em construir o seu portefólio de operações e transações, através das atuais parcerias e redes de fusões e aquisições de que faz parte, e em atrair investidores para oportunidades transfronteiriças, o que irá impulsionar o fluxo de transações e o negócio de advisory ao longo do corredor China-Europa.
Por último, no Bison Bank encontrará uma equipa de gestão de clientes dedicada, experiente e com uma abrangência global que é fundamental para a integração dos clientes do banco, a qual é feita através de um processo de abertura sustentado. Está sempre presente o conhecimento e sentimento de proximidade para com as soluções de investimento e serviços bancários, estando sempre ao seu lado na hora de tomar decisões.
Pode ser mais concreto a respeito da estratégia para crescer nas áreas de banca de investimento e wealth management?
O banco irá continuar a reforçar o seu posicionamento enquanto instituição financeira europeia de referência para as geografias dos diferentes clientes com interesse por uma expertise diferenciadora em serviços de wealth management. Os serviços de gestão discricionária de carteiras, consultoria para investimento e execução de ordens (brokerage) continuarão a ser reforçados nos anos vindouros em termos da sua natureza distinta e diferenciadora, oferecendo serviços e produtos com flavour internacional e asiático.
No que diz respeito ao negócio de banca de investimento, o banco pretende continuar a implementar uma estratégia B2B [business to business] com o objetivo de se associar a instituições capazes de trazer mais oportunidades de negócio, expandindo os canais de originação e distribuição provenientes da Ásia e da Europa para o Bison Bank.
Com o novo Comprehensive Agreement on Investment (CAI) entre a União Europeia e a China, o Bison Bank reforçará o seu posicionamento como parceiro Euro-Asiático dos seus clientes, ajudando os clientes chineses a investir e a encontrar oportunidades de negócio na Europa e nos países de língua portuguesa, enquanto apoia os clientes internacionais a investir e encontrar oportunidades de negócio na Ásia.
Quais foram os resultados do banco em 2020? De que forma foram impactados pela crise pandémica?
O banco prevê um resultado líquido negativo de cerca de 6,7 milhões de euros (valor não auditado) para o ano de 2020. Este valor está totalmente alinhado com o orçamento projetado e é consistente com o objetivo estratégico estabelecido em meados de 2018, no âmbito da aquisição do Banco pelo nosso Acionista, de construir gradualmente um Banco de raiz e de concluir com sucesso a sua recuperação, atingindo o breakeven nos próximos anos.
Apesar do banco ter alcançado o resultado anual previsto para 2020, o mix de receita/despesa foi diferente do previsto, tendo em conta o impacto da Covid-19 na originição de receita. Basicamente, uma gestão eficaz dos custos levada a cabo por todo o Banco permitiu-nos compensar esta diminuição da receita desencadeada pela pandemia.
Em termos de conquistas para o ano de 2020, o negócio de banco depositário atingiu, juntamente com o de custódia, 170 milhões de euros em novos ativos sob gestão. Além disso, também é relevante que o Banco tenha conseguido aumentar significativamente o número de MoU e parcerias estratégicas com instituições de todo o mundo, superando as 20, no total.
Embora a Covid-19 tenha conduzido a uma crise nas economias globais, o impacto sobre o Bison Bank destaca-se principalmente na relação do banco com para os seus clientes e na receita que daí advém. Como banco de investimento, a capacidade de oferecermos uma excelente experiência ao cliente é extremamente importante e, como tal, esta pandemia levou-nos a acelerar o nosso plano de transformação digital e a forma como o Banco gere os seus clientes.
Reforçaram a aposta nos canais digitais? De que formas?
Os canais digitais tiveram de ser desenvolvidos mais rapidamente, nomeadamente a Mobile App e o Homebanking, e tiveram de ser encontradas novas formas e mais eficazes de promover os nossos produtos e serviços.
Ao mesmo tempo, o banco garantiu que os seus colaboradores tinham os equipamentos, ferramentas, práticas de trabalho, acessos e a tecnologia necessária para que pudessem desenvolver o seu trabalho de uma forma flexível fora do escritório. A rápida transição rápida para o trabalho remoto enquanto lidávamos com um aumento no volume de negócios, levou a que melhorássemos a interação digital dos clientes nas plataformas do banco.
Em termos operacionais, o banco continuou a crescer em contraciclo, ajudando os clientes a terem noção do que esta crise poderia significar para os seus investimentos e também ajudando-os a prepararem-se para o cenário pós-pandémico.
Estou certo de que o Bison Bank aprenderá com esta pandemia e que irá estar certamente mais preparado para enfrentar as exigências dos seus clientes no futuro.
Acredita na recuperação da economia em 2021?
Espera-se que a economia global se expanda 4% em 2021, assumindo que a vacinação para a Covid-19 se generalize ao longo do ano. No entanto, a recuperação poderá ser provavelmente subjugada, a menos que os decisores políticos avancem com políticas para controlar a pandemia e implementar reformas que estimulem o investimento. A pandemia tem exacerbado consideravelmente os riscos da dívida nos mercados emergentes e nas economias desenvolvidas, como é economia portuguesa, sendo que as fracas perspetivas de crescimento provavelmente aumentarão ainda mais os encargos da dívida, o que irá corroer a capacidade dos financiados de servirem a dívida.
No entanto, uma recuperação em 2021 é ainda incerta, devido a prováveis barreiras no caminho que lavará ao crescimento económico. Não obstante, a economia chinesa está novamente a crescer de uma forma acelerada, mas muitas das nações mais ricas do mundo podem não recuperar totalmente até ao início de 2022, na melhor das hipóteses. Prevê-se que a economia chinesa cresça 8% em 2021, mais do dobro dos países ocidentais ditos bem sucedidos, mesmo antes da pandemia acabar.
E a economia portuguesa, quais as suas expetativas?
A economia portuguesa deverá sofrer uma recessão de 8% em 2020, em linha com a média da Zona Euro, e prevê-se um crescimento de 6% em 2021, acima da média da zona euro (+4,8%), como estimam alguns analistas, antecipando, no entanto, que Portugal não recuperará totalmente das perdas causadas pela pandemia antes de 2022.
Como resultado deste contexto, Portugal regista um aumento considerável do número de insolvências e é um dos países da UE onde o consumo foi mais afetado pela pandemia. Na minha perspetiva, Portugal beneficiará da retoma internacional do comércio de bens, cujas exportações representam 27% do PIB nacional, contribuindo para moderar a rapidez da recuperação.
De uma forma global, o sucesso ou insucesso da economia portuguesa dependerá da forma como o país gere o plano de vacinação, como incentiva o investimento privado e a da rapidez com que o turismo e todos os sectores dependentes retomam o seu crescimento.
Que balanço faz do impacto da pandemia no sector bancário?
O cenário das baixas taxas de juro, aliado ao impacto significativo da Covid-19, está a reduzir a rentabilidade do core bancário em mercados maduros, como o português. O paradigma das instituições financeiras está a mudar para um cenário onde a receita é gerada através de comissões provenientes de pagamentos e de meios digitais.
Em primeiro lugar, todos os agentes económicos com empréstimos que deixaram de trabalhar e de gerar rendimentos devido à pandemia podem não conseguir pagar os seus empréstimos. Isso vai resultar não apenas na perda dos rendimentos com origem no trabalho , mas também em perdas para os bancos (se a capacidade de reembolso for permanentemente afetada), influenciando negativamente os seus resultados e o seu capital. Dado que uma rápida recuperação se está a tornar cada vez menos provável, os bancos podem decerto esperar mais perdas, resultando na necessidade de provisões adicionais, afetando ainda mais a sua rentabilidade e a sua posição de capital.
Embora a Covid-19 tenha levado a uma crise na economia real, o impacto no sistema bancário e na relação banco-cliente foi significativo dado que pressionou ainda mais a digitalização do sector e a capacidade de oferecer uma excelente experiência ao cliente .
A clara perceção pelos agentes bancários do gap existente na prestação dos seus serviços, cada vez mais tangível com a CoviId-19, tornou-os ainda mais suscetíveis a acelerar os seus planos de transformação digital. Os bancos de retalho e de investimento vêem-se agora obrigados a incentivar a utilização dos canais digitais devido à necessidade de demonstrar uma real proximidade para os seus clientes, o que também tem sido o posicionamento do Bison Bank.
Mencionou o novo acordo entre a União Europeia e a China. É uma oportunidade para o Bison Bank se afirmar como um player euro-asiático?
Desde que a China e Portugal assinaram uma parceria estratégica em 2004, Portugal tem sido um importante recetor de investimentos chineses, tanto privados como públicos. Entre 2010 e 2016, o nível de investimento direto estrangeiro (FDI) chinês passou de 0 para 5,7 mil milhões de euros. Até 2017, o investimento agregado chinês em Portugal ascendeu a mais de 9 mil milhões de euros. Neste contexto, os números mostram uma parceria benéfica para Portugal, num passado recente.
O CAI irá aumentar a proteção legal para investimentos da UE na China, assim como eliminar limites de capital e restrições quantitativas, facilitar os requisitos para joint ventures e aumentar a transparência no mercado chinês.
A China comprometeu-se a levantar certas barreiras ao investimento estrangeiro direto em sectores como manufatura, serviços financeiros, R&D (recursos biológicos), serviços de informática, serviços relacionados com transporte aéreo, serviços de construção, saúde (hospitais privados), etc. No sector automóvel, a China concordou em retirar e eliminar gradualmente os requisitos de joint venture e empenhar-se no acesso ao mercado de veículos com sistemas alternativos de propulsão (elétrico, hidrogénio etc.).
Além da renovação da parceria estratégica, as políticas públicas chinesas como a “Belt and Road Initiative” e o novo 14º Plano Quinquenal (2021–25) serão uma oportunidade para estimular as nossas áreas de negócios e expandir a carteira de clientes do Banco.
Este acordo pode ser uma oportunidade para os clientes chineses aumentarem os seus investimentos em sectores onde ainda não estiveram tão ativos até agora, nomeadamente no sector agrícola e no sector tecnológico. Todos estes fatores vão ajudar o Bison Bank a promover a sua expertise asiática junto dos seus clientes, criando oportunidades de negócio que até agora não existiam.
Acredita que o investimento chinês no mundo ocidental vai crescer no futuro, nomeadamente na Europa?
No passado recente, os EUA e a China tiveram um relacionamento diplomático conturbado e, durante esse processo, os investidores chineses e encontraram cada vez mais dificuldade em colocar o seu capital nos mercados dos EUA. Com a nova administração, a América quer estar “em sintonia” com aliados e parceiros e, dessa forma, vai começar a restabelecer a diplomacia com a China. Por outro lado, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, sugeriu anteriormente que Pequim estaria aberto a reiniciar o seu relacionamento com os EUA após as eleições, declarando que os dois países estão numa “conjuntura histórica crítica” após um ano de tensões crescentes.
Antes do aparecimento da Covid-19, o contexto do investimento europeu era bastante favorável aos investidores chineses, principalmente quando comparado ao contexto americano. No entanto, desde esta altura e embora ainda que significativamente melhor que o contexto americano, não está claro se o ambiente de investimento da UE se irá manter assim.
As ligações comerciais e de investimento entre a União Europeia e a China são muito importantes para ambas as partes. A União Europeia e a China são mercados estratégicos para cada uma das partes, negociando, em média, mais de mil milhões de euros por dia. O crescente mercado doméstico da China e o seu peso económico representam oportunidades de negócio significativas para as empresas europeias.
A China considera a Europa como um aliado importante no Ocidente, mas a UE está agora mais consciente e protetora em relação aos seus sectores estratégicos selecionados pelos investidores chineses. A Europa deve agora concentrar-se nos novos sectores que vão ser abertos, nomeadamente os serviços financeiros e dos automóveis elétricos, que podem ter um impacto significativo nas transações internacionais de fusões e aquisições.
Acreditamos que a implementação do CAI UE-China irá criar oportunidades de crescimento transfronteiriças significativas em transações de fusões e aquisições. A UE tem vantagens comparativas em tecnologia avançada de fabrico e produção: o levantamento das barreiras ao investimento vai facilitar a expansão de investimento das empresas chinesas em sectores de alta tecnologia e a aprofundar a cooperação com empresas da UE.
As potenciais transferências de ativos de alta qualidade também representam uma oportunidade para as empresas chinesas expandirem as suas operações internacionais. Além disso, como a pandemia afetou significativamente a economia da UE, a introdução de capital chinês na UE ajudará o mercado a estabilizar o emprego e os salários.
Voltando à estratégia do Bison Bank em Portugal, quais são as grandes linhas estratégicas em 2021?
Os principais pilares estratégicos do Banco de 2021 a 2024 são continuar a desenvolver os serviços de banco depositário, custódia e wealth management nos principais mercados do banco, expandir os serviços de banca de investimento e desempenhar um papel de parceiro euro-asiático como vantagem competitiva.
O desenvolvimento tecnológico do Banco vai continuar a avançar com destaque para a valorização da Mobile App e homebanking, não só no que diz respeito aos produtos, serviços e funcionalidades disponibilizadas, mas também com vista a aumentar o número de clientes que utilizam estes canais no seu quotidiano.
O banco pretende adotar uma abordagem step-by-step e promover diferentes recursos na UE e na Ásia para estabilizar as operações e fortalecer o crescimento a longo prazo. Paralelamente, vai manter o seu objetivo estratégico estabelecido em meados de 2018, de construir gradualmente um Banco de raiz e de concluir com sucesso a sua recuperação, atingindo o breakeven nos próximos anos.
O Bison Bank irá continuar a consolidar as suas vantagens competitivas, especialmente após a assinatura do CAI China-UE, empenhar-se-á no desenvolvimento de mais oportunidades de negócio que fortalecerão os nossos clientes na Europa e na Ásia.
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