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CGD: “Não participei nas reuniões que constituem os 25 maiores créditos [ruinosos]”, diz Carlos Costa

Governador do Banco de Portugal volta a assegurar que não participou nas reuniões de conselhos alargados de crédito da CGD que aprovaram os 25 maiores créditos que acabaram por gerar perdas de 1,2 mil milhões de euros, segundo o relatório de auditoria da EY.
27 Março 2019, 19h18

“Não participei nos conselhos alargados de crédito que constituem os 25 maiores créditos que deram perdas [de 1,2 mil milhões de euros] e que constam do relatório da EY”, assegurou o governador do Banco de Portugal (BdP)  no Parlamento, onde  está a ser ouvido nesta quarta-feira, 27 de março, na II Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e à Gestão do Banco.

Carlos Costa volta, assim, a afirmar, tal como numa recente entrevista à SIC, que não participou “na decisão dos 25 grandes créditos” que geraram perdas à CGD”, explicando que “só ocasionalmente” estava presente no Conselho Alargado de Crédito e que a sua presença nas reuniões era apenas para “assegurar que havia quórum  de administradores necessários” para as reuniões.

A resposta do governador do BdP surgiu depois de o deputado do PS, João Paulo Correia, ter questionado Carlos Costa sobre duas operações do top 25 de créditos ruinosos como uma garantia bancária para um project finance de estrada e outra operação de crédito relativa a uma concessão de estradas que teve parecer desfavorável da direcção de risco da Caixa.

Recorde-se que além destes dois casos assinalados pelo deputado socialista, estão ainda em causa três grandes créditos que geraram muitas perdas para o banco (Metalgest, Investifino e Vale do Lobo) e cujas reuniões tiveram a participação de Carlos Costa quando este era administrador do banco público entre 2004 e 2006.

A resposta de Carlos Costa surgiu depois de o deputado do PS, João Paulo Correia, ter, por três vezes, questionado o governador do BdP sobre o tipo de informação adicional que o supervisor solicitou à Caixa, após ter recebido, a 26 de Junho de 2018, o relatório de auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015, que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito que acabaram por se revelar ruinosas. Carlos Costa não soube responder ao deputado socialista.

É sobre os resultados da auditoria da EY que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito, entre 2000 e 2015, que acabaram por se revelar ruinosas  que a nova CPI está a ouvir hoje Carlos Costa .

Na sua intervenção inicial, Carlos Costa garantiu que o supervisor não detetou “ocultação” de perdas no crédito, realçando que a inspeção aos bancos se intensificou a partir de 2010, tendo sido realizadas “diversas inspecções” à Caixa, mas que “não foram, contudo, acções específicas dirigidas à concessão de crédito”.

Já sobre o nível de imparidades registadas, o governador do BdP assegurou  que o supervisor não detetou qualquer “desvio anormal” face à média do setor, bem como “a ocultação” de perdas associadas à carteira de crédito naquele período.

Na sequência da notícia do Jornal Económico e da revista Sábado, no início de fevereiro, que noticiou que Carlos Costa esteve em pelo menos quatro reuniões do conselho alargado de créditos nas quais foram aprovados empréstimos a devedores que acabaram por resultar em perdas elevadas para o banco público, o governador do Banco de Portugal revelou, em comunicado, que pediu para não participar nas decisões da entidade que lidera sobre a auditoria realizada pela EY a 15 anos de gestão da Caixa. Este documento revela que o banco estatal cedeu créditos mesmo perante pareceres desfavoráveis da Direção de Risco da CGD.

A 19 de fevereiro, em entrevista à SIC, Carlos Costa explicou porque alega que não teve qualquer poder de decisão nos créditos ruinosos dados pela CGD a Vale do Lobo e ao empresário Manuel Fino.

No primeiro caso, o antigo administrador da CGD já assumiu que esteve numa reunião em que a administração chegou a um acordo de princípio sobre o que seria feito caso o empreendimento fosse vendido pelo então

accionista, mas assegurou que não foi nem a decisão final nem vinculativa. Segundo o governador, o negócio em que a CGD depois participou não tinha “nada a ver” com o que foi decidido nessa primeira reunião. Já em relação aos créditos ao empresário Manuel Fino, Carlos Costa negou que tenha feito parte das reuniões que decidiram essa concessão de crédito. E voltou hoje no Parlamento a garantir: “participei numa segunda fase da operação à Investifino e esta não gerou imparidades”.

Já sobre os créditos concedidos à Metalgeste, Carlos Costa assegurou nesta quarta-feira, 27 de março, aos deputados que “a operação não foi concretizada”.

Segundo a auditoria da EY no ‘Top 25’ dos créditos mais ruinosos, num total de 1.263 milhões de euros, foi entre 2000 e 2007 que se concentraram 78% destas operações: 871 milhões de euros de perdas registadas em 2015, referentes ao período em que a administração de  Carlos Santos Ferreira (entre 2005 e 2008) é apontada com maior concentração de créditos ruinosos, como à Artlant, a Joe Berardo e ao empreendimento Vale do Lobo.

 

Concessão de crédito sem controlo custou 903 milhões

No relatório da EY são reveladas 15 operações sem qualquer parecer individual da análise de risco, que resultaram em 86 milhões de perdas entre os 25 maiores créditos. E descobriram 13 operações em que o parecer de risco foi mesmo desfavorável, com  48 milhões de perdas nas operações de maior dimensão. No total, esta concessão de crédito sem controlo custou 903 milhões.

O relatório revela volumosas perdas nos créditos de risco da CGD. Até final de 2015, o banco tinha perdido 1.198 milhões de euros em apenas  46 grandes créditos.

A EY diz ainda que, nas 186 operações verificou “uma maior concentração no período 2000-2007 e 2008-2011″, com um peso perto dos 90% do total,  onde simultaneamente se verificam também maiores percentagens de perdas”.

Segundo o relatório, entre 2000 e 2007 foram realizadas 127 operações, com perdas acumuladas de 1.120 milhões; 47 operações entre 2008 e 2010 (477 milhões de perdas); oito entre 2011 e 2013 (40 milhões de perdas); e, quatro entre 2014 e 2015 (10 milhões).

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