A 7 de abril publiquei nesta coluna um artigo com o título “Chamem o Professor Porter, já!”. Referia-me a Michael E. Porter, professor de Economia na Harvard Business School. Porter estudou a economia portuguesa há 26 anos. Fez um conjunto de recomendações que ficaram conhecidas como o Relatório Porter. A convite de Luís Mira Amaral, ministro no governo de Cavaco Silva.

Este estudo estruturou o debate sobre a estratégia da economia portuguesa. Porter traçou o diagnóstico das fragilidades e prescreveu as receitas para aumentar a competitividade da economia portuguesa. Muitas foram seguidas, com sucesso, mas muitas outras não, e estão na base do nosso progressivo atraso.

Escrevi também, nesse momento, menos de um mês depois do decreto de declaração do estado de emergência: “Precisamos de um discurso que olhe para a renovação necessária pós-pandemia. Tem de ser um discurso de líder, firme nas convicções, confiando que os portugueses serão capazes, baseado na ideia que o sacrifício de hoje vale a pena porque vamos lutar para superar as dificuldades. Em resumo, encarar a pandemia como uma oportunidade para a renovação a muitos níveis – cidadãos, empresas, Estado, instituições.”

Na realidade, não chamaram Michael Porter ele mesmo. Chamaram o Relatório elaborado por Porter. Descobri no fim de semana no semanário “Sol” que, uma semana antes de apresentar programa de Costa Silva, a 21 de julho, o Governo decidira recuperar o estudo de Porter. Pensei que, afinal, há ainda quem perceba onde estão as boas ideias.

Cinco meses depois da minha sugestão, confirma-se que o Conselho de Ministros decidiu atualizar o Relatório Porter nas Grandes Opções do Plano, documento aprovado na semana passada pelo Executivo, onde pode ler-se: “Realizaremos ainda um estudo de atualização do Relatório Porter”.

Segundo o “Sol”, a ideia do Governo é identificar as “potencialidades da economia portuguesa e definir políticas públicas que permitam melhorar o perfil de especialização e a estrutura do nosso tecido industrial”. Com um foco nas atividades consideradas emergentes, como é o caso das baterias.

Em entrevista ao “Sol”, Mira Amaral aplaude a iniciativa do Governo e não se mostra surpreendido com a decisão: “Há tempos tive um almoço com o ministro da Economia e tive oportunidade de falar sobre o Relatório Porter e de entregar um estudo realizado pela CIP sobre a reindustrialização 4.0”.

Ainda assim, considera que a atualização deveria ser mais abrangente e não focar-se apenas nas baterias. “Há mais clusters tecnológicos que deviam ser estudados”, e dá o exemplo de seis: materiais; biotecnologia; tecnologias de informação e comunicação; saúde e ciências da vida; aeronáutica e, por fim, mobilidade, onde poderiam estar integradas as baterias.

É preciso ir mais além e não ficar apenas pelo programa avançado por António Costa Silva e que, no entender do Professor Mira Amaral, é inútil, vazio, poesia. “Não serve para nada”, diz. Mira Amaral admite, no entanto, que ainda tem esperança nos ministros da Economia  [Pedro Siza Vieira] e do Planeamento [Nelson de Souza], já que os considera “equilibrados” e os “únicos capazes de fazer um plano para a economia que seja exequível e realista”.

Como então escrevi, é preciso mobilizar as melhores cabeças, entre as quais referi precisamente o ministro da Economia, para trabalhar a estratégia de recuperação de Portugal, esforço de Estado que tem de começar de imediato.