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Chefe da Telecom Italia acredita que 5G pode revitalizar crescimento do setor das telecomunicações na Europa

O atual momento do setor europeu das telecomunicações é visto pelo CEO da Telecom Italia como uma “falha de mercado”. Mesmo assim, Amos Genish acredita que a chegada do 5G é uma oprtunidade de revitalização do setor. Mas que oprtunidades? O que prevê o Plano de Ação 5G, elaborado por Bruxelas? E em Portugal?
31 Outubro 2018, 07h38

O presidente executivo da Telecom Italia, a maior empresa de telecomunicações italiana, lamentou a existência de uma “falha de mercado” no setor das telecomunicações, apesar da implementação da rede 5G oferecer uma oportunidade de revitalizar o crescimento do setor na Europa.

“As empresas de telecomunicações estão a perder força financeira e os acionistas tomam decisões sem conhecimento de causa. Não podemos ignorar esta falha de mercado ”, afirmou Amos Genish em entrevista ao “Financial Times” (FT) na terça-feira.

Genish acredita que a concorrência desregulamentada de preços, a regulamentação e o facto de a maioria das empresas de telecomunicações europeias não registar lucros suficientes para cobrir o custo das suas operações, são motivo de preocupação. Não obstante, o responsável máximo das operadoras de telecomunicações italianas acredita que o 5G configura uma oportunidade para o setor.

Ainda que, no caso italiano, Genish tenha dito ao FT que o leilão de espectro 5G fora “projectado, claramente, para aumentar as verbas para o governo”, a implementação do novo espectro de rede poderá contribuir para “para passar de um setor de sofredor para um setor vencedor ”.

O 5G promete aumentar a rentabilidade reduzindo drasticamente o custo de entregar um gigabit de dados em até 70%. Também permitirá que as empresas de telecomunicações vendam serviços sob medida, “cortando” a rede para oferecer às empresas largura de banda específica e, em simultâneo, oferecer velocidades de rede mais rápidas para os consumidores dispostos a pagar mais. Genish acredita que o mercado europeu das telecomunicações beneficiaria disso, devido à criação de serviços móveis de alta qualidade.

Na Europa, a chegada da rede 5G antecipa-se para 2020. E a curto prazo, o 5G traz grandes desafios mas, de acordo com os mandados europeus, a implantação das tecnologias 5G na União Europeia (UE) poderá criar dois milhões de postos de trabalho.

De facto, a implantação destas tecnologias requer um grande investimento em equipamento e espetro e as empresas de telecomunicações esperam que os governos possam facilitar o processo através da alocação de novas faixas de espetro radioelétrico de forma coordenada para evitar a fragmentação do mercado interno e através da criação de um ambiente favorável ao investimento.

Segundo a informação divulgada pelo Parlamento Europeu, em junho de 2017,  os eurodeputados deram o seu apoio ao plano de ação preparado pela Comissão Europeia para facilitar a implantação das tecnologias 5G na Europa e sublinharam ser essencial uma coordenação entre os Estados-Membros para evitar que os atrasos que ocorreram com a implantação das 4G se repitam e que se deveram essencialmente à disponibilidade de espetro muito limitada.

Não será por acaso que a Comissão Europeia atribuiu 700 milhões de euros de financiamento público a uma parceria público-privada lançada em 2013, financiamento que deverá ser complementado com financiamento privado para atingir um valor total de 3,5 mil milhões de euros até 2025. Mais,  a implementação do Plano de Ação 5G poderá levar à criação de dois milhões de postos de trabalho.

Plano de Ação 5G
Em março deste ano, a União Europeia chegou a um acordo provisório sobre regras para comunicações 5G.

O acordo foi alcançado sobre uma série de medidas fundamentais previstas no Código Europeu das Comunicações Eletrónicas, incluindo a disponibilidade de espetro de radiofrequências para as comunicações 5G até 2020 na União Europeia (UE), 20 anos de previsibilidade de investimento para as licenças de espetro e uma melhor coordenação e avaliação pelos pares em matéria de procedimentos previstos para a atribuição de espetro de radiofrequências.

Só para as comunicações, Bruxelas apresentou o “Plano de Ação 5G”, que prevê um calendário comum coordenado da UE para o lançamento comercial dos serviços 5G em 2020, bem como um trabalho conjunto com os Estados-Membros e as partes interessadas do setor para identificar e atribuir faixas do espetro para as comunicações 5G, organizar ensaios de serviços 5G pan-europeus a partir de 2018, promover normas mundiais 5G comuns e incentivar a adoção de roteiros nacionais de implantação dos serviços 5G em todos os Estados-Membros da UE.

O caso português
Em Portugal, por regulação europeia, as operadoras de telecomunicações terão de ter implementada o espectro 5G já em 2020, sendo que a estabilidade do 5G e a sua comercialização uniformizada só ocorrerá a partir de 2025. Foi no mês de julho deste ano que a Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom) deu início aos trabalhos para a libertação da faixa de frequência de 700 megahertz (MHz), abrindo o prazo até 30 de junho de 2020 para que os operadores de telecomunicações concretizem a mudança de frequências, com vista à implementação do 5G, em Portugal.

A implementação do 5G é algo complexo, numa fase de abertura, o que significa que a curto prazo haverá investimentos expressivos, sem que ainda se tenha tirado partido daquilo que foram os fortes investimentos nas redes móveis anteriores. Por cá, Nos, Vodafone Portugal e Altice Portugal tem acompanhado a exigência comunitária e a movimentação do setor a nível europeu. Ainda assim, são críticos quanto à forma e aos prazos para a implementação do novo espectro de rede, mesmo que seja unânime as oportunidades e o nível de desenvolvimento tecnológico que o 5G trará.

Em julho, o CEO da Vodafone Portugal, Mário Vaz, afirmou em entrevista ao jornal Económico: “Do ponto de vista tecnológico não temos de ter receio. Estaremos seguramente preparados na data que tal se justificar, mas não devemos olhar para o 5G apenas nessa ótica de calendário, de pôr a bandeira para dizer que temos o 5G. O que é essencial é que o país diga que nós já precisamos do 5G, porque esse é que é o momento ideal, o momento de que o 5G é útil para as pessoas, para as empresas e útil para a economia portuguesa e para a competitividade nacional, e nisso, sinceramente, não estamos lá. Estamos longe de estar lá, porque o que já temos hoje é suficiente para garantir níveis de competitividade para o país, dinâmica inovadora – ainda há muito para oferecer no LTE [Long Term Evolution, ou evolução de longo prazo]. Temos é que ir explorando o mais possível, acelerando o mais possível o potencial do 4G para fazer a transição para o 5G”.

Mais, o responsável máximo pela Vodafone Portugal contou que a empresa já investiu, “praticamente, mil milhões de euros nos últimos anos para disponibilizar uma rede de última geração de fibra”.

“O que é importante para o 5G é que haja um ecossistema e que haja um modelo de negócio associado. E a verdade é que hoje o 5G não tem nenhum business case que o justifique. É preciso começar a trabalhar nisso, porque hoje ele está a ser promovido quer pela vertente de inovação tecnológica quer até pela agenda política”, salientou Mário Vaz.

Alexandre Fonseca, presidente executivo da Altice Portugal, por sua vez, defende que o 5G “não pode servir de ferramenta para financiar reguladores”.

Também em julho, aquando da primeira demonstração em ambiente de rede comercial e pré-comercial da tecnologia 5G, com material da Huawei, que teve lugar na sede da Altice, em Lisboa, o CEO da operadora dona da Meo, disse (numa alusão ao leilão de espectro que a Anacom pretende realizar): “É daqueles pontos que a indústria, como um todo, tem abordado de forma unânime o tema do 5G do ponto de vista do leilão de espectro. Nós não podemos uma vez mais cair na tentação de ver o leilão de espectro 5G como uma ferramenta de financiar reguladores”.

A Nos, por sua vez, já apontou para que o 5G com selo da operadora seja uma realidade no final de 2019 e, embora o pico do espectro ocorra só em 2025, a empresa prometeu uma cobertura de 100% da população nacional.

“Estamos convictos que o 5G virá a ter a ter um enorme impacto em termos de experiência  de utilização e sobretudo na transformação digital da indústria e das cidades em Portugal, impulsionando o crescimento da economia nacional”, afirmou o CTO da NOS, Jorge Graça, no mês de julho, numa sessão de demonstração do uso da tecnologia 5G.

A pensar na implementação do 5G, as três maiores operadoras portuguesas de telecomunicações já têm parceiros tecnológicos. A Altice Portugal juntou-se à Huawei e a Nos à filandesa Nokia.

 

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