O movimento anti-ESG nos EUA defende que os fatores de risco ambiental, social e de governo das sociedades não devem ser tomados em consideração nas decisões de uma empresa ou investidor, devendo o objetivo fundamental ser a maximização do lucro. Este movimento é um reflexo da polarização política que se tem vindo a verificar neste país e no mundo, nos últimos anos, e Portugal não é exceção.

Um exemplo recente desta polarização ocorreu no estado do Tennessee onde a Câmara dos Representantes votou favoravelmente a expulsão de dois membros do partido democratas, de raça negra, da Câmara por terem protestado numa sessão contra as leis de posse de armas e reclamado uma reforma para promover o controlo da posse de armas. Curiosamente um outro membro da Câmara, este de raça branca, também envolvido no protesto, não foi expulso.

Estes protestos aconteceram na sequência de mais um tiroteio numa escola em Nashville – apenas mais um nos EUA! A direita que promove o movimento anti-EGS está geralmente associada a uma ideologia ultraconservadora, que ainda hoje assume uma posição cética em relação às mudanças climáticas e à importância dos valores sociais na tomada de decisões financeiras.

Um exemplo do movimento anti-ESG nos EUA foi a proposta, aprovada em 2022, de Ron DeSantis, governador da Flórida e potencial candidato presidencial pelo Partido Republicano em 2024, para impedir que os ESGs sejam incorporados na gestão dos fundos de investimento e pensões do estado da Flórida. Este exemplo não é um caso isolado: olhemos para os estados do Texas e West Virginia, que impedem que os seus fundos de investimento e pensões sejam geridos por instituições financeiras defensoras das alterações climáticas ou que tenham posições contra a utilização de combustíveis fósseis.

Finalmente, na área de diversidade e igualdade de oportunidades na gestão das empresas, tem-se assistido a um aumento do ativismo dos acionistas conservadores com propostas nas assembleias gerais das grandes empresas norte-americanas, questionando as políticas de diversidade de género e tentando salvaguardar os interesses dos trabalhadores de género masculino de raça branca.

O movimento anti-ESG já está a ter impacto na opinião pública. Um estudo das Universidades de Princeton e Indiana e do Boston College, publicado na revista Nature em 2022, mostra que o esforço conservador tem tido algum sucesso em confundir a opinião pública sobre as mudanças climáticas. Quando questionados sobre a sua estimativa para a percentagem da população que apoia as políticas de mitigação das mudanças climáticas, os entrevistados estimam entre 37% e 43%. O número real está entre 66% a 80%!

Na minha perspetiva, é crucial que os fatores ambientais e sociais sejam considerados nas decisões de investimento das empresas e investidores. É certo que, em equilíbrio, os investidores auferem rentabilidades mais baixas (e também menor risco) quando investem em empresas com riscos de ESG mais reduzidos. No entanto, podem existir benefícios investimentos ESG.

Primeiro que tudo, existem aspetos não financeiros que os investimentos ESG conferem aos investidores, nomeadamente responsabilidade social. Para além disso, os investimentos ESG podem ter uma performance financeira superior à esperada atualmente pois estamos numa fase de transição para uma economia mais verde e mais sensível às questões sociais. As empresas que melhor se prepararem agora, estarão mais aptas para a realidade futura.

Além disso, os investimentos ESG também podem contribuir para mitigar os impactos sociais e ambientais da atividade das empresas, tais como a poluição e a desigualdade social e exploração de trabalhadores. Por exemplo, diversos estudos mostram que as empresas com melhores práticas de ESG tiveram melhor performance durante a pandemia do Covid-19 pois tinham melhores condições de trabalho ou fornecedores mais próximos, sendo desta forma menos afetadas pelas disrupções decorrentes da pandemia.

Até ao momento não há indicações de que o movimento anti-ESG seja significativo na Europa. Na verdade, a União Europeia tem sido líder mundial na adoção de políticas ambientais, sociais e de sustentabilidade.

Entre outras iniciativas destacamos o mercado de transação de emissões de carbono, o estabelecimento de objetivos ambiciosos de redução de emissões (neutralidade carbónica em 2050), a adoção de políticas de diversidade nas empresas e a promoção de investimentos verdes. Por exemplo, a regulação Europeia (i.e., a “EU Sustainable Finance Disclosures Regulation – SFDR” que entrou em vigor em 2021) impõe aos gestores de ativos financeiros que integrem os riscos de ESG no processo de investimento e ofereçam produtos de investimentos com objetivos ambientais ou sociais.

Ou ainda regulação que promove a diversidade de género nas empresas em vigor em vários países europeus incluindo Portugal. No entanto, é importante lembrar que a economia global é interconectada, e o movimento anti-ESG nos Estados Unidos pode ter impactos indiretos na Europa e no mundo. Por exemplo, as empresas europeias que operam nos Estados Unidos podem ter de lidar com pressões para abandonar os seus compromissos ESG para permanecerem competitivas no mercado americano e global no curto prazo.

Existem críticas legítimas em relação às práticas de ESG de algumas empresas e investidores, sendo que algumas dessas críticas contribuíram para o crescimento do movimento anti-ESG. Por exemplo, algumas empresas podem sentir-se pressionadas a priorizar os fatores ESG em detrimento dos seus objetivos financeiros de curto-prazo. Além disso, alguns críticos argumentam que os investimentos ESG podem ser menos rentáveis do que outras formas de investimento, ou que a avaliação de ESG é subjetiva e pode variar entre diferentes empresas e investidores.

Um problema sério é o chamado “Greenwashing”, que consiste em empresas divulgarem informação “falsa” sobre o seu impacto ambiental e social e desta forma iludirem os investidores e consumidores sobre a sustentabilidade do seu modelo de negócio.

Há também evidência de um estudo das Universidades da Virginia e Genebra de que fundos de investimento norte-americanos que são signatários dos Principles for Responsible Investment (PRI) – rede de investidores apoiada pelas Nações Unidas –  acabam por investir em empresas que são, em média, piores em termos de ESG do que outros fundos que não signatários do PRI.

Este tipo de situações compromete e descredibiliza os esforços de todas as empresas e investidores que implementam medidas sérias para a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável. Mas como em tudo, há os “bons e maus alunos” e é fundamental promover uma maior prestação de informação e responsabilização por parte das empresas e investidores para que seja possível valorizar os “bons” e promover a mudança dos “maus”.