O festival alemão dos hambúrgueres a que Marcelo Rebelo de Sousa supostamente iria foi um epifenómeno resultado da má preparação de André Ventura, de achismo, de conversa de café transformada em discurso público.

A tentativa de fuga em frente, arremetendo contra o excesso de viagens presidenciais também é uma reação típica do líder populista, que dissemina informação errada como suporte a posições políticas. Uma estratégia de clickbait.

Claro que Marcelo não fez 1.550 viagens à custa dos contribuintes nos dois mandatos como presidente. São 165, já contando com a Bürgerfest, na Alemanha. Pouco mais de 10% do que aquilo que Ventura afirma. Uma boutade. Mas isto não quer dizer que o Chega não tenha um padrão nas posições que assume sobre este tema. Tem.

O problema manifesto do agora segundo maior grupo parlamentar não é com o número de viagens do Presidente da República, mas sim com destinos muito específicos: os países da lusofonia. Em 2022, o Chega votou contra três deslocações de Marcelo Rebelo de Sousa.

Uma a Angola para a cerimónia de tomada de posse de João Lourenço para o segundo mandato como Presidente da República, outra a Cabo Verde para uma visita oficial, e outra ainda ao Brasil para a tomada de posse de Lula da Silva como Presidente.

Este ano, repetiu o gesto de recusa com o Brasil, por causa da Cimeira Luso-Brasileira. É mais do que a oposição declarada ao título de residência da CPLP ou a consideração de corrupção em Angola ou o antagonismo com Lula da Silva, a quem já ameaçou barrar a entrada em Portugal. Cabo Verde também está na lista de indesejáveis.

Ao que o Chega diz respeito, o âmbito da lusofonia é mais limitado do que se supõe, termina ao largo dos Açores.