A chegada de gente nova – na idade e nas ideias – aos diretórios partidários é de louvar porque pode contribuir para revigorar o sistema de partidos. Porém, a eleição de Francisco Rodrigues dos Santos, vulgarmente conhecido por Chicão, para presidente do CDS-PP não representa apenas a tomada do poder por parte da Juventude Popular (JP). O processo é mais complexo, embora o novo líder tenha levado para a direção alguns membros da sua inteira confiança que o acompanhavam na JC.
Na realidade, o discurso do novo líder deixou claro que tem em mente a reinvenção do CDS. Daí falar de uma nova direita. Um projeto que diz pretender construir através de uma síntese de ideias de anteriores presidentes do partido. Uma forma de tentar afastar o receio sentido pelos centristas que temem que a nova estratégia seja, na sua quase totalidade, centrada na figura de Francisco Rodrigues dos Santos. A exemplo daquilo que se passou durante a liderança de Paulo Portas. Um erro que explica a escassez de massa crítica e de quadros dirigentes qualificados e a hecatombe eleitoral que derrubou Assunção Cristas. A aposta no eucalipto acarreta custos elevados, seja a nível da natureza ou da política.
No seu discurso, Chicão mencionou duas vezes o nome de Paulo Portas, mas o facto de os poucos representantes que ainda restam do “portismo” não integrarem a nova direção, ao contrário do que se passa com as outras tendências minoritárias, prova que, 22 anos depois, Chicão não deseja que o PP da segunda parte da sigla partidária possa ser visto como uma marca destinada a lembrar Paulo Portas. Por isso, o novo líder fez questão de referir que o CDS era “um partido popular”.
Por falar em siglas, é seguro que Chicão, por mais personalizada que venha a ser a sua liderança, não correrá a tentação de levar a sua sigla – FRS – para o CDS. A História tem destas coisas!
No levantar do véu sobre a nova estratégia, o novo líder fez questão de acrescentar que o partido tinha “uma implantação nacional” que o distinguia “dos partidos emergentes”. Uma forma de reconhecer que uma parte considerável dos votos perdidos pelo CDS no mais recente ato eleitoral tinha ido abastecer o bornal do Chega e da Iniciativa Liberal. Afinal, a ameaça é real porque o populismo sabe articular o discurso sempre que o descontentamento social põe em causa o normal funcionamento das instituições. Uma realidade a que Portugal não escapa. Exemplos não faltam nem faltarão: caso Sócrates, BES, Luanda Leaks…
Depois de eleito, Francisco Rodrigues dos Santos, mais do que colocar o foco nos temas fraturantes que têm marcado a sua vida partidária à frente da Juventude Popular, optou por chamar à colação o elemento ideológico. Assim, não falou da questão do aborto ou do casamento de pessoas do mesmo sexo. Preferiu dizer que o CDS era “um partido que é direita, sem complexos nem tibiezas”. Algo que se saúda, pois denota que a opção ideológica é assumida por inteiro. Para meias-tintas já basta o PSD de Rio.
Só que Chicão, apesar da sua juventude, já teve tempo para perceber que o nicho eleitoral que se revê na dicotomia esquerda/direita é cada vez mais reduzido. Talvez por isso não se tenha esquecido de acrescentar que o seu partido era “interclassista”. Uma classificação que, por enquanto, representa mais um desejo do que uma realidade confirmada pelos factos. O novo nome dos votos.
Francisco Rodrigues dos Santos, como antigo aluno do Colégio Militar, sabe que a divisa da instituição é “um por todos, todos por um”. Duas realidades com as quais a política não está habituada a conviver. Reinventar o CDS não se afigura tarefa fácil. Vamos ver se a alcunha ajuda.