As empresas são construídas por pessoas, desde os seus fundadores aos seus trabalhadores, passando pelos seus clientes. Todos eles respiram, mas também todos eles tomam decisões e têm as suas emoções e pensamentos. Todos têm os seus comportamentos. E tendo um comportamento, observável ou não, logo existem.

Todos fazemos contas nem que seja para comprar um café e receber o troco ou para comparar o preço de diferentes marcas de cereais num supermercado, mas nem por isso nos consideramos aptos para gerir a área financeira de uma empresa.

Muitos de nós já assinámos contratos, alguns de nós até já os negociámos, mas não nos consideramos juristas, solicitadores ou advogados para gerirmos o contencioso numa empresa ou prepararmos a defesa dos seus interesses nos tribunais.

Já para analisar e gerir o comportamento das pessoas todos parecem considerar-se aptos e preparados para o fazer. Desde a área comercial, onde o comportamento de um consumidor é central, passando pela área dos recursos humanos em termos de absentismo e motivação ou na área financeira para recuperação de dívidas, o conhecimento sobre o comportamento humano é essencial.

Todavia, são ainda poucas as empresas (mas existem) que procurando o que a ciência pode contribuir para melhorar a sua competitividade através da análise e intervenções comportamentais e psicológicas apostam nesta área dando-lhe a importância crítica e transversal para a gestão da organização e apostando em profissionais competentes para o fazer.

Chief Behavioral Officers (CBO) começam a chegar às empresas para operacionalizar e testar intervenções comportamentais, com base na evidência científica, de que beneficiam todas as áreas de uma empresa sem excepção.

Mas os CBO são na verdade CPO, ou seja “Chief Psychological Officers”, pois quando olhamos para o âmago das suas funções, como têm sido descritas, elas baseiam-se tão-só na ciência psicológica, colocando o ser humano e o seu comportamento, motivações, cultura de desenvolvimento organizacional e processos cognitivos e emocionais no centro da sua acção na empresa, necessitando para isso de competências para o estabelecimento de uma boa comunicação com as várias áreas da organização, com empatia e articulação em trabalho de equipa.

Não podemos é ter medo (estigma) da palavra psicologia e do psicólogo (e não, não existem só psicólogos clínicos) como único tipo de profissional preparado nas várias dimensões necessárias para a intervenção transversal comportamental, seja no que concerne às pessoas, bem como aos processos (que envolvem comportamentos e responsabilidades) em que trabalham na empresa seja quanto aos seus clientes, seja quanto aos seus fornecedores.

Mas atenção, os Chief Behavioral Officers não usam bolas de cristal nem possuem um conhecimento infinito sobre o comportamento humano. Estes psicólogos são, isso sim, os profissionais melhor preparados e competentes para providenciar informação desta natureza à gestão, alertar e prevenir enviesamentos na tomada de decisão e testar hipóteses para a optimização de processos relacionados com todos os stakeholders.

Com isso descobrirão, muitas vezes aprendendo com insucessos decorrentes da aplicação, por definição, do método científico, qual a melhor decisão de gestão, ajudando a poupar recursos, investir melhor, criando mais bem-estar e por isso mais engagement entre os trabalhadores, centrada na satisfação dos clientes e reduzindo riscos de integridade.

Este é um contributo de enorme valor para aumentar a competitividade das nossas empresas e as mais-valias para os seus sócios ou accionistas, com repercussão em toda a comunidade. A sua empresa já tem um Chief Behavioral Officer?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.