A transição digital, a economia do mar e o sector da saúde são as três principais áreas onde os serviços de informação económica da China consideram existirem maiores oportunidades de investimento para as empresas chinesas, enquadradas pelos fundos europeus disponíveis.
“Acreditamos que o plano de recuperação económica de Portugal trará três grandes oportunidades de investimento e as empresas com financiamento chinês podem avaliar se podem entrar nestas áreas”, afirmou Yu Hui, analista sénior do Serviço da Informação Económica da China sobre Países Estrangeiros, na conferência “China-Portugal: Novas Oportunidades no Contexto da Recuperação Europeia”.
A conferência “China-Portugal: Novas Oportunidades no Contexto da Recuperação Europeia” foi promovida pelo Banco da China, juntamente com a Associação de Sociedades Chinesas em Portugal e a Associação de Jovens Empresários Portugal-China, que teve o Jornal Económico (JE) como media host.
O primeiro sector encarado como de potencial investimento é o da tecnologia, não só no quadro da transição digital. “O Governo português considera o desenvolvimento de tecnologia avançada como uma das grandes prioridades da economia nacional, sendo os dois importantes objetivos do plano de recuperação de Portugal a promoção da construção de uma economia de baixo carbono e a transformação digital”, referiu Yu Hui, sublinhando esta ideia com declarações do primeiro-ministro português, António Costa, que disse que, uma vez que Portugal, que falhou as três revoluções industriais anteriores, deve aproveitar as oportunidades de desenvolvimento da Indústria 4.0 e esforçar-se por estar na vanguarda da quarta revolução industrial.
A segunda maior oportunidade de investimento está na economia do mar, incluindo-se aqui a exploração da energia eólica marítima.
“Portugal apresenta vantagens notáveis nos recursos marinhos: o volume de negócios anual da indústria marítima ronda os seis mil milhões de euros, representando cerca de 3% do produto interno bruto e as exportações da indústria marítima representam 4% do total das exportações portuguesas”, aponta Hu, sublinhando que Portugal espera aproveitar as suas vantagens nos recursos marítimos e na investigação marítima “para atrair investimentos e estimular o desenvolvimento económico”.
Por isso, salienta que a cooperação marítima é uma parte importante da cooperação bilateral China-Portugal e aponta as vantagens de ser reforçada. “Portugal tem vantagens na investigação teórica básica em ciências marítimas e a China tem uma rica reserva de pessoas talentosas e o apoio que dá a projetos de pesquisa científica tem aumentando de dia para dia”, explica, acrescentando que, em conjunto, os dois países terão “mais oportunidades de cooperação na proteção marítima e desenvolvimento e na utilização de recursos marítimos, pesquisa científica marítima, economia marítima, construção de infraestruturas portuárias e atualização tecnológica”.
A terceira oportunidade de investimento está no setor saúde e higiene.
“O governo português planeia investir 12,1 mil milhões de euros numa grande reforma do sistema de saúde em 2021. Vai usar o Fundo de Recuperação da União Europeia para reforçar a construção de sistemas de serviço de saúde básicos, como centros de saúde familiar, cuidados integrais, cuidados paliativos e de saúde mental, etc, e melhorar o serviço do sistema nacional de saúde”, justifica a analista.
Salientou que, desde a eclosão da pandemia de Covid-19, a cooperação internacional tem mostrado forte resiliência e vitalidade e desempenhado um “papel importante no combate à pandemia”, e que a China, neste quadro, “tem prestado assistência ativa a Portugal, continuando a emergir um novo ímpeto de cooperação entre os dois países nos domínios da medicina e saúde”.
“No futuro, China e Portugal têm muito espaço para cooperação no desenvolvimento da ‘Rota da Seda da Saúde’”, acrescentou.
Cooperação para o mercado da lusofonia
A conferência “China-Portugal: Novas Oportunidades no Contexto da Recuperação Europeia” contou com intervenções do embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, e com uma intervenção do embaixador português na China, José Augusto Duarte, que afirmaram a importâncias das relações entre os dois países.
Participaram também, no primeiro de dois dias de trabalhos, Wu Zhiliang, membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês; o secretário-geral da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Vítor Ramalho; o vice-presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal Óscar Gaspar; o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz; o presidente do AICEP, Luís Castro Henriques; o presidente-executivo do BNU Macau, do Grupo CGD; e o presidente do Banco da China em Portugal, Xiao Qi.
Pelas diferentes intervenções perpassou a ideia do papel de Portugal como elemento fundamental para a consolidação de uma plataforma para o mercado global da lusofonia e, não só, partindo destes pontos (países de língua oficial portuguesa) para outros mercados, especialmente em África e na América do Sul.
“A capacidade económica dos dois países tem uma complementaridade forte e podemos ter uma cooperação ampla, numa perspetiva global”, defendeu Yu Hui.
“No futuro, China e Portugal poderão aproveitar as suas respetivas vantagens e aproveitar a plataforma do Fórum de Cooperação Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa para o desenvolvimento de infraestruturas, energia, transportes, marinha, agricultura, saúde, etc”, apontou a analista, acrescentando que, “para os países de língua portuguesa, países da UE, países da América Latina e países africanos, a cooperação tripartida nesta área tem aberto novos pontos de crescimento para a cooperação sino-portuguesa”.
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