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Chinesa BEWG vê Portugal como “trampolim” para outras regiões

O grupo cotado em Hong Kong quer investir mais em Portugal, nas áreas da água, ambiente e energia. O conflito com a Câmara de Mafra sobre um contrato de concessão causa “desconforto”, mas não ameaça os planos.
29 Dezembro 2018, 19h00

“Trampolim”, “plataforma” ou “tubo de ensaio” são os termos usados por Alberto Carvalho Neto para descrever a forma como a chinesa Beijing Entreprises Water Group (BEWG) vê o papel de Portugal na expansão internacional da empresa.

Em entrevista, o administrador da unidade portuguesa do grupo, que é cotado na bolsa de Hong Kong, revela a vontade firme de reforçar o investimento em Portugal. Carvalho Neto é também administrador da Be Water, empresa detida pela BEWG Portugal, e que gere quatro contratos de concessões de abastecimento e saneamento de água (em Mafra, Ourém, Valongo e Paredes) e  presta serviços operacionais à Águas do Algarve. A entrada no país ocorreu em 2013, com a aquisição da unidade portuguesa da Compagnie General des Eaux à Veolia Environement por cerca de 95 milhões de euros.

“Há um plano de crescimento. A BEWG comprou, está se a estabelecer e a tentar crescer em vários setores”, explica o gestor. O grupo está interessado em setores ligados à infraestrutura a nível nacional desde energias renováveis relacionados com  o setor do mar aos processos de dessalinização.

“Acreditamos que com parcerias com empresas nacionais poderá se criar e apoiar um plano de médio a longo prazo para Portugal, com o apoio das universidades, para reduzir o custo da água dessalinizada. É importante que Portugal deixe de depender de Espanha, porque a maior parte dos rios vem de lá”, defende.

Carvalho Neto adianta que a BEWG está em contacto direto com as autarquias, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério do Ambiente para identificar projetos nos quais o grupo chinês poderá investir.

“Neste momento, estamos numa fase em que precisamos que nos indiquem qual é o caminho, pois somos um grupo que quer investir. A vinda do presidente da China e a visita do nosso CEO a Portugal este mês é prova de que a BEWG, através da Be Water, quer continuar a crescer em Portugal”, salienta.

“Esse crescimento pode criar novos postos de trabalho, porque estamos sempre a pensar em Portugal como num trampolim para outros países”, acrescenta.

As únicas filiais do grupo fora da China são as de Portugal e a da Austrália. “Toda a área ligada à Europa, África e América do Sul é tratada por Portugal, não só para a BEWG, mas também para o Grupo Beikong, que é um grupo enorme, está nas 500 [maiores] empresas do mundo”.

Resgate em Mafra

Carvalho Neto salienta que a unidade em Portugal, que tem 450 empregados e fatura cerca de 50 milhões de euros por ano, representa uma gota de água num grupo tão grande, mas a importância estratégica é relevante.

A empresa mantém o interesse em investir em Portugal, mesmo apesar de estar a ser alvo de um processo de arbitragem jurídica com a Câmara Municipal de Mafra sobre uma concessão. O contrato terminava no final de 2024, mas a autarquia anunciou em novembro que decidiu resgatar a concessão a partir do início de 2019, porque considera “inaceitável” o pedido de reequilíbrio económico-financeiro feito pela Be Water e que implica aumentos médios de 30% na tarifa.

Alberto Carvalho Neto defende que o pedido é justificado. “Quando se fala em reequilíbrios ou aumentos, não estamos a falar simplesmente nos custos da empresa. As águas em alta subiram de preço,  o preço da energia subiu e nós temos que tentar ir acompanhando a inflação. Muitas vezes o que tentamos pedir anualmente é que haja um reequilíbrio sobre isso. Quando estamos três, quatro ou cinco anos sem o fazer, isso começa a acumular”.

O gestor lamenta que não estejam em curso negociações para resolver o assunto, e acusa o executivo autárquico de estar comprometido por ter prometido a medida desde 2015, como parte de campanha eleitoral.

“O que o grupo entende é que o facto de o município agir assim, especialmente quando ainda faltam cinco anos, é muito desconfortável. Há investimento feito, o grupo quer continuar a investir, a trabalhar, mas cria uma zona de desconforto”, sublinha.

A Be Water espera que o tribunal arbitral chegue a uma decisão nos próximos seis meses, mas entretanto não vai realocar os 96 trabalhadores que tem em Mafra, porque isso seria precipitado e causaria maior instabilidade.

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