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Chiquita Brands: “República das bananas” condenada a pagar mais de 38 milhões de dólares por ações na Colômbia

Muitas décadas depois, a Chiquita Brands – herdeira da tristemente famosa United Fruit Company – foi condenada por financiar grupos paramilitares, atividade que foi sempre do seu agrado. A empresa está ligada a George W. Bush.
11 Junho 2024, 10h45

A justiça dos Estados Unidos condenou a empresa norte-americana de fruta Chiquita Brands a pagar 38,3 milhões de dólares (35,6 milhões de euros) às vítimas de uma organização paramilitar da Colômbia. O júri decidiu que a Chiquita não demonstrou que “a assistência que prestou” às Forças de Auto Defesa Unidas da Colômbia (AUC) para proteger os funcionários da violência foi resultado de uma “ameaça ilegal, imediata e iminente” do grupo paramilitar.

De acordo com o veredicto do julgamento civil num tribunal federal de West Palm Beach (Flórida), citado pela agência Lusa, a Chiquita também não conseguiu demonstrar que “não tinha outra alternativa razoável” senão “prestar assistência às AUC”. A decisão histórica, tomada após uma década de litígio, diz ainda que a assistência da Chiquita às AUC constituiu “uma atividade perigosa” que aumentou o risco para os membros da comunidade, para além dos perigos a que normalmente estavam expostos.

A multinacional foi condenada a indemnizar os sobreviventes e familiares de vítimas da violência paramilitar na década de 1990 e no início do século, especialmente na região de Urabá, no noroeste da Colômbia, conhecida pela produção de banana.

O diretor do Departamento Nacional de Planeamento colombiano, Alexander López, disse na rede social X que a sentença representa “a chegada da justiça às centenas de vítimas, apesar do atraso”. Estas pessoas, afirmou López, “viveram massacres, desapropriações e muita ansiedade devido ao pagamento criminoso (…) que financiou um dos piores capítulos” da história da Colômbia.

“Este veredicto envia uma mensagem poderosa às empresas de todo o mundo: lucrar com os abusos dos direitos humanos não ficará impune”, disse o conselheiro principal da EarthRights International, Marco Simons. A EarthRights International foi um dos grupos que lançou uma ação civil em 2007 contra a Chiquita, que emprega cerca de 20 mil pessoas e opera em 70 países, mas que abandonou as operações na Colômbia em 2004.

A Chiquita admitiu em 2007, num julgamento criminal num tribunal de Nova Iorque, que tinha pago aos paramilitares colombianos 1,7 milhões de dólares (1,58 milhões de euros), alegadamente “sob pressão”. Após uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA, a Chiquita confessou-se culpada e chegou a um acordo judicial que resultou numa multa de 25 milhões de dólares (23,2 milhões de euros).

As AUC operaram na Colômbia no início dos anos 1990 com o objetivo de combater a guerrilha de esquerda, tendo sido apoiada por grupos políticos e empresários. O grupo, desativado em 2006, tinha reputação de usar extrema violência contra civis para angariar. Vários dos seus líderes foram entretanto extraditados para os EUA.

A Chiquita é herdeira do histórico da tristemente famosa Unite Fruit Company, que operou em toda a América Latina e que angariou para si a ‘lenda’ (verdadeira) de ser uma espécie de braço empresarial das operações ilegais da CIA no subcontinente americano contra os governos conotados com as esquerdas. As suas ações levaram mesmo à criação do de um termo especial: a ‘república das bananas’ – países controlados por juntas quase sempre militares, colocadas no poder por via de ações violentas e posteriormente repressivas. A sua intervenção no Chile de Salvador Allende – em favor da ditadura de Augusto Pinochet – é uma das suas páginas mais dramáticas, mas a empresa esteve também em Cuba, na tentativa de acabar com o regime de Fidel Castro e em muitos outros lugares da América do Sul. Ficou sobejamente provado que agia sempre em conjunto e com o apoio dos governos dos Estados Unidos e da CIA.

A United Fruit surgiu em 1900 como resultado da fusão entre a empresa de bananas Tropical Trading and Transport Company e a sua rival Boston Fruit Company. Muitas décadas depois, em 1969, a empresa foi comprada pela Zapata Corporation, empresa relacionada com George W. Bush, presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009. A empresa modificou a sua razão social para Chiquita Brands mas não o seu modo de operar.

O pior episódio da companhia terá sido o chamado Massacre das Bananeiras: a morte de trabalhadores da United Fruit ocorrido em 6 de dezembro de 1928 na cidade de Aracataca (Magdalena), nas proximidades de Santa Marta, Colômbia.Na sequência de uma greve de trabalhadores da empresa, considerada comunista e com tendências subversivas, o governo norte-americano ameaçou invadir a Colômbia se o governo do país não agisse para proteger os interesses da empresa. Um número desconhecido de trabalhadores morreu quando o governo conservador de Miguel Mendéz enviou o exército colombiano para acabar com uma greve. Algumas fontes afirmam que morreram mais de dois mil trabalhadores. As ligações da empresa de bananas e a Colômbia é, por isso, muito antiga.

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