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Ciclos e estrutura

Temos que conseguir a par com o controlo da conjuntura, isto é, o controlo dos ciclos, com adequadas políticas anti cíclicas, mudar definitivamente a estrutura.
4 Março 2022, 10h43

As taxas de crescimento do PIB para Portugal e para a União Europeia (UE) nos últimos três anos, juntamente com as previsões para 2022, não trazem boas notícias do ponto de vista de convergência.

Em 2018 o PIB per capita (PIBpc) na UE era de cerca de 28.270 euros, enquanto o português não ia além dos 18.190 euros (dados Eurostat), ou seja, em Portugal, em média, um cidadão recebia cerca de 64,3% do valor recebido por um cidadão europeu. Consideremos agora as taxas de crescimento do PIB desde 2019 para as duas geografias:

 

  2019 2020 2021 2022 (previsão)
Portugal 2,2 -8,4 4,8 5,8
UE 1,5 -6,5 5,1 4,2

 

Se aplicarmos estas taxas ao PIBpc de 2018, concluímos que no final de 2022 teremos a Europa com cerca de 29.382 euros e Portugal com 18.881 euros. Ou seja, em média um cidadão português receberá cerca de 64,2% de um cidadão europeu. Não estamos muito pior, é certo, mas também não estamos melhor. Ou seja, não conseguimos convergir.

O problema, a meu ver, é que a questão da convergência não se consegue debelar sem darmos um verdadeiro salto estrutural. Em economia trabalhamos com dois conceitos: o PIB efetivo (aquele que se produz todos os anos e que varia com os ciclos económicos) e o PIB potencial (aquele que poderíamos atingir se fizéssemos uma utilização plena e eficiente de todos os nossos recursos).

As taxas de crescimento apresentadas dão-nos precisamente a variação do PIB efetivo, ou seja, a extensão dos ciclos económicos. Claramente em 2020 tivemos uma recessão e estamos agora num momento de expansão. Mas esta expansão, ainda que se prolongue e reforce em 2022, não é suficiente para darmos o salto e para nos aproximarmos da Europa.

Para o conseguirmos temos que conseguir o que chamamos uma quebra de estrutura, isto é, temos que conseguir alterar o PIB potencial. Temos que conseguir aumentar de forma significativa os recursos disponíveis na economia para ser possível que, a funcionar em pleno, livre de ciclos económicos, a nossa capacidade de gerar produto e, logo, rendimento, seja substancialmente maior.

Temos que conseguir a par com o controlo da conjuntura (isto é, o controlo dos ciclos, com adequadas políticas anti cíclicas) mudar definitivamente a estrutura.

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