Chega-se à altura natalícia e há que relembrar a Portaria 1226/2009 – DR197, que aprova a Lista de Espécies de cujos espécimes vivos, bem como dos híbridos deles resultantes, é proibida a detenção. Ou, de forma redutora, proíbe circos com animais, com várias exceções (proibição de reprodução, existência prévia, e muitas espécies). Este ano o PAN relembrou-nos o assunto propondo um alargamento da legislação anterior a todos os animais, a ser discutido amanhã no Parlamento.
Adiantando-se à linha do tempo estão algumas cidades, como Sintra e Cascais, que não permitem estes circos, mesmo se já existissem aquando da entrada em vigor da Portaria. Grandes circos já se apresentam sem as ditas feras, alguns mesmo muito conhecidos a nível nacional, como o espetáculo anual no Coliseu do Porto (desde 2015). Os mais pequenos, como os das cidades e vilas de veraneantes, também já perceberam que fazem mais sucesso com Homens-aranha e com Elsas e Olafs que propriamente com um tigre. De facto, quem é que paga para ver animais selvagens, indubitavelmente confusos, e forçados a aprender uma rotina de forma muito pouco transparente, quando se pode assistir a espetáculos fabulosos com acrobatas humanos ou outras palhaçadas noutros circos? O Novo Circo, por exemplo, recupera tradições circenses extraordinárias.
Os poucos circos com animais ainda existentes acabam por se fixar nas cidades onde ainda não há a proibição, oferecem bilhetes aos infantários locais para que os pais paguem os seus. Pouca população se dá ao trabalho de propor manifestos que chamem a atenção das Câmaras Municipais, ou sequer de impedir que os filhos vão. Na verdade, é importante que não vão, pois, de tão pequenos, não têm, e ainda bem, compreensão das implicações.
Os circos veem nas crianças, ainda sem filtros sociais, um futuro que não virá. E tão bem o sabem, que deixaram de colocar os animais nos cartazes publicitários. Os pais e avós (convenhamos, que quão maior o generation gap, maior o problema), numa qualquer convicção que aqueles animais são domesticados e não amestrados, diferença essencial, vêm na possibilidade de ver um animal destes a fazer habilidades algo de muito importante. Mas não é importante. Há internet e canais de televisão, que mostram todos os animais numa situação mais próxima do ideal. Há também, apesar de não isentos a críticas, alguns jardins zoológicos operacionais, onde é possível ver grandes animais selvagens, para quem fizer questão. É uma questão de empatia básica e bom senso, e é uma pena que a lei venha primeiro que a empatia. Quase 20 países já têm esta proibição. Em Inglaterra, 94% das pessoas é contra animais no circo e possivelmente serão os próximos a banir a prática ao nível nacional. Para quando em Portugal?
(A partir de um comentário meu no ano passado, que infelizmente traduz uma realidade que não mudou.)