O Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal publicou recentemente dados que mostram que a confiança dos empresários apresentou quebras em julho e em agosto, quebras essas que se observaram em todos os setores.
Para mim, os resultados não são surpreendentes, dada a quantidade de desafios que os empresários portugueses têm enfrentado nos últimos tempos. Em Portugal é impossível não ficar pessimista. Para além dos dados que confirmam o pessimismo, há ainda os que preveem que esse pessimismo continue no mundo dos negócios. E não só… todos os dias, ligamos a televisão e o tom das notícias é todo o mesmo: só desgraças, preços, taxas, impostos a subir…
Num país onde as barreiras burocráticas asfixiam a inovação e o crescimento empresarial, não é de admirar que os empresários estejam a sentir a pressão. A complexa máquina fiscal, aliada à elevada carga tributária, os entraves regulatórios e a falta de investimento em infraestruturas, são alguns dos muitos fatores que têm contribuído para um ambiente empresarial desafiante. O resultado disso é uma sensação de estagnação e incerteza, que inevitavelmente se traduz num sentimento pessimista.
Ainda recentemente falava com um empresário que me dizia: “Cada vez que recebo uma carta da AT até tremo! Já sei que é mais uma multa motivada por uma distração qualquer”. É neste ambiente de medo que vivem os donos dos pequenos negócios. E são as Micro e Pequenas empresas o grande motor da nossa economia. Estamos a falar de 98% das empresas existentes, segundo a Pordata.
Mas não é só este exemplo. Cada vez mais os empresários se sentem estrangulados com os impostos sobre os rendimentos. Têm as equipas a pedir aumentos devido à crescente inflação e não conseguem apresentar aumentos palpáveis devido à carga fiscal. Há empresários verdadeiramente angustiados em perder pessoas importantes para a organização porque não conseguem pagar o que elas merecem. Já outros sentem muitas vezes que estão a pagar mais aos colaboradores do que a eles próprios. E também não é esse o propósito de uma empresa. Nenhum empresário cria um negócio para não ganhar dinheiro!
E se não temos um ambiente onde a inovação e o empreendedorismo são incentivados e celebrados, passamos a viver numa situação frustrante onde só vejo os empresários a lutar para sobreviverem. Por mais resiliência que tenham, e para ser empresário é fundamental ser resiliente, há momentos em que o pessimismo acaba por ultrapassar a nossa capacidade de resiliência.
Em Portugal é crucial reconhecermos as preocupações legítimas dos empresários e trabalharmos para criar um ambiente mais favorável aos negócios. E temos de o fazer enquanto sociedade. Falamos em simplificar os processos burocráticos, a implementação de políticas estáveis e previsíveis e o investimento em infraestruturas que possam impulsionar o crescimento económico.
Mas também temos de deixar de encarar os empresários como os maus da fita e achar que só querem enriquecer à custa dos outros. Se os empresários perceberem que suas preocupações são ouvidas e que estão a ser tomadas medidas concretas, isto ajudar a restaurar a confiança e a esperança no futuro.
É preciso agir. E depressa. Porque se não quisermos melhorar o sentimento pessimista do principal motor da economia portuguesa, os pequenos e médios negócios, vamos enfrentar graves problemas muito em breve.