Na última apresentação das contas do grupo Sonae em março, Cláudia Azevedo recebeu publicamente das mãos do irmão Paulo a incumbência de continuar a desenvolver o grupo, legado do pai, e de o manter como um dos mais importantes do país. Num pequeno discurso que fez Paulo Azevedo aproximar-se várias vezes das lágrimas, Cláudia manteve uma postura introspetiva, nos antípodas da intervenção impressionista do irmão.
Ninguém duvida que, agora à frente do grupo, continuará a ser assim: as emoções são para se manifestarem noutro lado, a haver um, e a sobriedade contida e sem manifestações afetivas que considera desnecessárias será a sua imagem de marca. Tal como o pai.
Diz quem com ela priva que Cláudia Azevedo não gosta de perder tempo, não gosta de conversas floreadas – que, precisamente, fazem perder tempo – e que não pode ser mais direta quando trata de um assunto, principalmente se ele for de relevância. Ou, dito de outra forma: tem um perfil psicológico que a transforma, da prole de três filhos que o pai, Belmiro de Azevedo, criou com esmero, na mais parecida com o homem que transformou a Sonae na maior empresa não financeira do país.
Aos 48 anos – e assumindo, como o pai, que o jornal Público lhe está entranhado no sangue – Cláudia Azevedo, que passou a ser a nova CEO do grupo, casada (mas dizem que separada) com um designer e mãe de duas crianças na pré-adolescência, não gosta que lhe digam que ‘não’, nem tem estima especial por quem decide enveredar por contra-argumentações quando está a falar com ela.
“Isso acontece porque normalmente quando chega à solução de um problema, já pensou em tudo, nos argumentos e nos contra-argumentos, e por isso não precisa de estar a perdem tempo”, diz ao Jornal Económico alguém que manteve bastas reuniões com a gestora, licenciada na Universidade Católica e com um MBA no INSEAD.
Ou seja, tal como o pai, Cláudia não tem nenhuma preocupação em demonstrar que, no que diz respeito à gestão das empresas por onde tem passado, tem uma visão claramente relativista do que é o processo democrático de tomada de decisão ou o diálogo construtivo. Quando anuncia uma decisão, é porque ela está tomada e não para auscultar pontos de vista. Quem estiver mal, que se mude.
E demonstra-o das mais diversas formas. Uma delas é insistir – verbo aqui usado como alternativo a ‘obrigar’ – em que os seus subalternos a trabalharem em Lisboa se desloquem ao Porto quando é preciso reunir.
O faro para os negócios continua a ser uma caraterística que herdou do pai. Os mais difíceis interessam-lhe ainda mais que aqueles que se encontram em velocidade cruzeiro – ou não teria ido parar à liderança da Sonae Capital, onde foi substituir Belmiro de Azevedo.
Alguma coisa havia de ter ‘saído’ diferente do pai – com quem, diz-se, se ‘pegava’ com alguma facilidade: Cláudia não gosta de grandes protagonismos – Belmiro sabia que era o centro das atenções e de algum modo sabia que isso era um dos seus trunfos e os irmãos, ambos mais velhos, também não se furtam a dar a cara quando é preciso. Mesmo o mais velho, Nuno – de quem se diz que não tem paciência para cumprir os apertados requisitos de ‘homem Sonae’ e que mais uma vez não estava presente na apresentação das contas deste ano – como se constatou quando era executivo da Casa da Música, papel que aliás desempenhou com distinção.
Será por isso que, quando participa em algum ‘happening’ da Sonae, se contam pelos dedos de apenas uma das mãos o número de conversas que mantém com quem não é do seu círculo mais próximo. O ar tendencialmente ‘carrancudo’ que ostenta também não é de modo a promover grandes aproximações.
Mas, desta vez, no mês passado, lá abriu uma ou outra exceção: afinal, estava prestes a ser ‘coroada’ CEO na Assembleia Geral seguinte, e havia que fazer um esforço para não desmotivar logo à partida qualquer intenção de aproximação.
Nesse particular, é diametralmente diferente do irmão Paulo, que substituiu – sorridente, coloquial e absolutamente disposto a aturar quem se aproxima, mesmo que o que tenha para lhe dizer seja nada. Daí que, muito possivelmente, a Sonae vai de algum modo voltar uns anos atrás: Cláudia será com certeza uma ‘patroa’ à antiga – poucos sorrisos, saudações rápidas e em regime de passo acelerado e nenhuma margem para ‘conversetas’.
Quanto ao mais, a nova CEO da Sonae é a discrição em pessoa: vestida com alguma austeridade e claramente pouco adepta de saltos altos, prefere que ninguém perceba que anda por ali. Com apenas uma concessão conhecida ao espalhafato: conduz um enorme SUV da marca Maserati, impossível de fazer passar despercebido nas ruas do Porto.
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