Num tempo marcado por convulsões sociais e ativismos vários, há um movimento que surpreende não só pela pertinência da sua causa mas também pela sua globalidade, independência, civismo e juvenilidade. Refiro-me à “SchoolStrike4Climate” – “Greve à escola pelo clima” –, que foi desencadeada pela adolescente sueca Greta Thunberg, que passa as sextas-feiras na escadaria do parlamento do seu país em protesto contra a inação do mundo perante as alterações climáticas.
O movimento tornou-se rapidamente global. A 15 de março, a “Greve à escola pelo clima” chegou a mais de duas mil cidades de 128 países, juntando cerca de 1,4 milhões de jovens. Em Portugal houve manifestações em 30 cidades, tendo Lisboa reunido mais de 10.000 estudantes. Incisivas, as palavras de ordem proferidas pelos jovens ficaram a ecoar na opinião pública mundial. Tal como o discurso de Greta Thunberg no Fórum Mundial de Davos: “Eu não quero a vossa esperança. Quero que sintam o medo que eu sinto todos os dias, e depois quero que façam alguma coisa”.
E assim, de repente, a geração que muitos viam ensimesmada nos telemóveis e a quem não era reconhecida consciência cívica e muito menos política veio para a rua lutar pelo seu futuro. Foi uma autêntica bofetada nos que, entre as gerações mais velhas, tendem a desvalorizar os jovens, exibindo superioridade moral e caindo na esdrúxula tentação de fazer comparações intergeracionais. Não há gerações melhores do que outras, sendo o comportamento geracional moldado pelas diferentes circunstâncias históricas.
Pode-se sempre argumentar que o movimento impulsionado por Greta Thunberg é ingénuo e romântico, pois não se afigura simples (nem rápida) uma mudança profunda da estrutura produtiva, dos meios de transporte, dos padrões de consumo ou dos hábitos alimentares. Mas a determinação dos jovens é impactante e mediática, trazendo pressão social acrescida a favor do combate às alterações climáticas. E, mais importante ainda, o movimento pode influenciar toda uma geração a adotar comportamentos individuais mais consentâneos com a preservação do planeta.
De resto, os adolescentes de hoje vão ser confrontados com uma série de questões civilizacionais e alterações de paradigma, pelo que convém que esta seja, de facto, uma geração combativa. As alterações climáticas são a maior crise que a Humanidade já enfrentou. Mas outras interrogações toldam o horizonte, como a previsível rutura dos sistemas públicos de segurança social, motivada pelo envelhecimento da população, ou as transformações do mercado laboral, provocadas pela expansão da robótica.
Importa que os governos sejam sensíveis às preocupações dos jovens, para que estes se sintam representados e garantam, com a sua participação política e cívica, a prevalência da democracia. O futuro é deles e não deve ser hipotecado por paternalismo ou condescendência geracional.