Nestes dias em que a activista ambiental Greta Thunberg esteve por Lisboa, regressada do seu périplo militante pelas Américas, entrando na Europa pel’ “O rosto com que fita”, foi notada a ausência do Presidente da República portuguesa à sua recepção (quem fez as honras da casa foi o Presidente da Câmara da cidade).

Se é verdade que nada obrigava Marcelo Rebelo de Sousa a receber a intrépida jovem, a justificação por este usada para a sua não comparência foi surpreendente: não queria que existisse aproveitamento político deste acto!

Curiosa escolha esta do Presidente dos afectos, que não se juntou à simbologia da viagem, das palavras e das greves da miúda sueca de trança, mas é o primeiro a curvar-se, em nome de Portugal, perante as viagens e as palavras de um idoso de vestido branco (é até uma contradição, uma vez que a miúda e o idoso já se encontraram, e o idoso encorajou a sua demanda).

É também o Presidente que telefona para programas de televisão a parabenizar os aniversários dos ditos ou a desejar boa sorte, mas isso agora não interessa nada. O que interessa é a causa climática. Por mais que muitos não gostem da cara de Greta, do seu tom combativo e dos seus raspanetes de baixo para cima, ela é apenas um sintoma. A causa é um planeta que está em emergência climática.

Apesar do planeta Terra ter oscilações climatéricas cíclicas, ao longos dos milhões de anos, as variações do presente não são compagináveis com essas alternâncias naturais. Os dados são inequívocos e há um consenso científico: estamos a atravessar uma mudança climática, e essa mudança é causada pelo ser humano, através da emissão em excesso de gases com efeito de estufa.

De uma forma simples, os gases que a produção humana tem gerado acumulam-se na atmosfera e impedem, em demasia, que os raios solares se reflictam para o espaço, depois de atingirem a terra. Ao “baterem” nessa camada gasosa, voltam à terra, aquecendo-a demais.

A solução para este problema é simples: libertar menos desses gases ou encontrar forma de os absorver. Negar este problema, e atacar quem nos alerta, é tão-só estúpido.

Bem sei que há quem tenha muito a perder, no curto prazo, com as mudanças necessárias. Mas é a vida…

É curioso verificar como a maior parte dos que negam as mudanças climáticas, ou a causa humana dessas mudanças, são, tipicamente, pessoas que acreditam e veneram entidades abstractas, mitológicas e improváveis como Deus, mas são super-exigentes relativamente às provas científicas deste problema.

Lá fora, os fanáticos religiosos e evangélicos, terraplanistas e creacionistas, os Trumpistas e Bolsonaristas, estão em negação. Por cá, a direita “observadora” é uma lídima representante.

Diverte-me também o argumento de que só pode debater quem for especialista em mudanças climáticas. É que eu não preciso de ser especialista em aeronáutica para saber que os aviões voam, e atestar que voam. A ciência já provou que voam. O mesmo vale para as mudanças climáticas.

Enfim, a grande vantagem da ciência é que dá provas do que diz, e muda quando erra.

No caso do aquecimento global, o que a ciência diz é que temos que mudar de rumo. Para isso, temos que abrandar o ritmo da produção e inventar novas tecnologias verdes. Caso contrário, a destruição é “certinha-direitinha” e não há fé que nos valha.

O autor escreve de acordo coma a antiga ortografia.