(O título destas linhas poderia aplicar-se ao meu clube, sendo que as mesmas foram escritas antes do jogo em Barcelona e previamente à comunicação que o presidente afirmou ir fazer. Depois do tumulto pelo qual passou o Sporting Clube de Portugal, seria expectável que o tempo fosse de, pelo menos, relativa união. Não o tem sido, como demonstra o facto de um colega meu da extinta Comissão de Fiscalização, por acaso o seu presidente, Henrique Monteiro, ter sido fisicamente ameaçado. A sua página do Facebook é, aliás, o reflexo daquilo que, a coberto da distância digital, uma persistente campanha de ódio consegue produzir, isto é, um chorrilho de disparates sem qualquer valia. Em vez de um permanente clima de guerrilha, o tempo é de olhar para a frente, de cabeça erguida, até porque a maior das derrotas não é perder umas batalhas mas nem sequer ir a jogo. E esse era o risco que se corria, por muito mais dourado que se queira pintar o passado.)
Na Irlanda decorre uma greve de enfermeiros, na qual estes profissionais, também afectos ao sector público, reclamam, entre outros, aumento salariais, sendo que, ao contrário do que sucede em Portugal, o protesto tem merecido o apoio da população.
Entre nós, aliás à semelhança do que já sucedera com os estivadores e os trabalhadores da Autoeuropa, os enfermeiros foram alvo de uma campanha negra, mediante a qual ficaram com o ónus da desmarcação de cirurgias, sem que a maior parte das pessoas questione a versão dos factos que nos é, tão prontamente, trazida. Se há algo em que este Governo revela a sua extrema competência é na capacidade que demonstra ter na manipulação da opinião pública (e que, por ironia do destino, é inversamente proporcional à do presidente do Sporting).
Refira-se, antes de mais, que esta greve não é diferente da que foi feita pelos professores às avaliações. Por outro lado, não deixa de ser curioso que ninguém questione as mortes ocorridas em função das listas de espera mas surja tanta gente a criticar os enfermeiros quando, pelo menos até agora, não foi demonstrado o incumprimento dos serviços mínimos. Enquanto não me demonstrarem o oposto, não vislumbro motivos para que especialistas não sejam remunerados enquanto tal e percebo mal que sejamos tão facilmente arrastados para discursos de ódio.
Portugal pode ser de brandos costumes mas sempre foi, também, pasto para má-língua. Bastas vezes, assemelhamo-nos a um clube de combate, em que uns são permanentemente virados contra os outros, sem que se perceba que não passamos de meras marionetas, comandados por aqueles que elegemos. O problema não está, portanto, nos enfermeiros, como nunca esteve nos estivadores ou nos professores. Está em cada um de nós.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.