Após décadas de outsourcing e offshoring temos agora, a partir do momento que se percebeu que o modelo de offshoring foi em termos geográficos demasiado longe, a possibilidade de voltar a ligar a conceção, engenharia e desenvolvimento à produção no mesmo sítio (reshoring) ou de fazer o outsourcing para regiões mais próximas (nearshoring). Ora, as cadeias de valor globais (Global Value Chains – GVCs) estão ligadas à importância das trocas de bens intermédios para novos processamentos, facilitando o offshoring e o nearshoring na fabricação e montagem de partes dum produto global.

Hoje em dia, os fluxos de capital e do comércio internacional excedem os que havia antes das Grandes Guerras. A crescente ligação entre comércio e investimento internacionais gerou as chamadas cadeias de valor globais (GVCs), estando esse comércio internacional e as atividades produtivas à escala global crescentemente estruturados à volta dessas cadeias de valor. Assim as GVCs englobam todas as atividades das empresas, em casa ou no estrangeiro, necessárias para colocar o produto (bens físicos ou serviços) no mercado global, indo essas atividades da conceção do produto até à sua utilização pelo consumidor, ou seja, abrangem toda a cadeia de valor, em casa ou no estrangeiro, desde a conceção e design do produto, produção do mesmo, marketing e logística até à distribuição e sua entrega ao consumidor final.

Globalização, redução dos custos logísticos, reformas das políticas comerciais, especialização dos países em tarefas em vez de produção e uma rede de compradores e fornecedores à escala global levaram a maiores fragmentações internacionais destas cadeias de valor baseadas nas vantagens comparativas dos países.

No âmbito da integração nas cadeias de valor globais, o nosso país é um obvio candidato a estratégias de nearshoring, devendo as nossas PME integrar-se nas cadeias de valor globais das multinacionais e grandes empresas globais e respetivos polos de especialização. Por outro lado, com o avanço espetacular das tecnologias da informação e comunicação, os bens transacionáveis à escala global não são apenas os produtos manufaturados (bens físicos) mas também os serviços (bens intangíveis). Na realidade, graças à internet e às modernas redes de telecomunicações, autênticas autoestradas da informação, projetos de engenharia, serviços de educação (com as plataformas de e-learning), serviços de saúde (como acontece com os diagnósticos e análises médicas), serviços financeiros, controlo remoto de redes e sistemas, podem ser transacionados à escala global, oferecidos duma localização geográfica para outras na economia global.

A iniciativa “Clubes de Fornecedores” dinamizada pelo Ministério da Economia é uma excelente ideia visando justamente, através das chamadas “Empresas Nucleares” ligadas a cadeias globais de produção, constituir redes de PME fornecedoras dessas empresas com vista à maior integração destas PME nas cadeias de valor globais. Tal preocupação já eu tinha tido aquando do projeto Autoeuropa quando criei o GAPIN-Gabinete de Apoio à Participação da Indústria Nacional. Tal visava dinamizar a indústria portuguesa de componentes para fornecer a Autoeuropa e a partir dai entrar no Clube de Fornecedores da VW a nível internacional.