Tendo o conceito surgido inicialmente em 2011 na Alemanha, o termo “Indústria 4.0” tem sido apropriado por vários quadrantes da sociedade europeia desde então. De forma simplificada, a “Indústria 4.0” representa uma nova abordagem que pretende potenciar as oportunidades proporcionadas pelas tecnologias de informação, comunicação e eletrónica (TICE) junto das empresas e setor industrial, nomeadamente a “Internet das Coisas” (IoT), a robotização, a digitalização e virtualização, a automação e integração das várias fases do ciclo de produção e da cadeia de valor ou a produção aditiva utilizando a tecnologia 3D. A utilização intensiva destas tecnológicas proporciona maiores níveis de otimização tecnológica, mesmo em ambientes complexos, traduzidos numa maior eficiência de custos e numa melhor qualidade final dos bens e serviços produzidos.

A importância da indústria como motor da recuperação económica europeia traduz-se em vários documentos programáticos no âmbito da estratégia Europa 2020 (aprovada em 2010), como é o caso da Comunicação da Comissão “For a European Industrial Renaissance” ou “A Stronger European Industry for Growth and Economic Recovery Industrial Policy”. Neste contexto, a Industria 4.0 é uma das prioridades atuais da UE, refletindo a necessidade de recuperar o atraso que existe face a outras zonas do globo mais avançadas na incorporação destas tecnologias no setor industrial, como a Ásia ou os EUA.

De acordo com o International Federation of Robotics (IFR), os países com maior densidade de robôs na indústria (número de robôs por 10.000 trabalhadores industriais) são a Coreia do Sul (347) e o Japão (339). Só depois aparecem os países europeus, como a Alemanha (261), a Itália (159) e a Suécia (157). Contudo, se considerarmos a quantidade total, o Japão (310 mil), os EUA (168 mil), a Alemanha (161) e a Coreia do Sul (139) são os países do mundo com mais robôs industriais. No que respeita à IoT (“Internet das Coisas”), e de acordo com a OCDE, o país mais avançado é a Coreia do Sul (37,9 dispositivos online ligados à IoT por 100 pessoas), seguido pela Dinamarca (32,7), Suíça (29) e EUA (24,9). Portugal aparece no Top 10 dos países mais avançados na IoT, em 10º lugar (16,2) à frente de países como o Reino Unido ou a Bélgica.

Portugal está na linha da frente na criação de um contexto favorável à “Indústria 4.0”, tendo o Governo apresentado recentemente um programa que pretende envolver cerca de 50 mil empresas nos próximos anos. Este programa, elaborado em articulação com as empresas e outras entidades ligadas ao sistema de inovação, pretende capacitar o tecido empresarial para esta realidade, não só através de incentivos financeiros, mas também agindo sobre a atualização das competências técnicas e digitais dos trabalhadores, na criação de learning factories ou de espaços de produtização e prototipagem.

Este contexto favorável pode ser potenciado pelo facto de existir formalmente em Portugal (desde 2009) uma política de clusters. Os clusters podem ser estruturas importantes no que respeita à transição para a “Indústria 4.0”, dada a sua importância na capacitação setorial, intersetorial, na cooperação e colaboração entre empresas, universidades, centros de I&D, infraestruturas tecnológicas, etc., bem como no desenvolvimento de produtos e serviços assentes na inovação e orientados para os mercados globais.

Esta importância é reforçada pelo facto de termos clusters internacionalizados e em áreas tecnologicamente avançadas (como a aeronáutica, o automóvel ou as tecnologias de produção), mas também em áreas que visam dar resposta a desafios societais (como a Saúde ou as Smart Cities) ou áreas mais “tradicionais”, onde a tecnologia e a inovação têm sido importantes para a sua revitalização (como o calçado, têxteis ou a fileira florestal). Pelas suas características, os clusters podem ser um acelerador para que Portugal se possa posicionar na primeira vaga de países da chamada “quarta revolução industrial”.