Cinco anos após a Covid-19, há ampla evidência científica sobre a importância da promoção da saúde e do bem-estar no seio das organizações, tanto na dimensão física como psicológica. Vivemos uma conjuntura marcada pela incerteza, com impacto directo na liderança, na gestão e na saúde ocupacional. O trabalho, enquanto valor central, perdeu parte do seu protagonismo com a entrada das novas gerações (Millennials e Geração Z), que colocam desafios inéditos às estruturas organizacionais.

Como escreveu Thomas Jefferson, “cada geração é um novo país”. As configurações laborais pós-Covid representam um estímulo à criação de condições de trabalho mais humanas e sustentáveis, conciliando produtividade, saúde e engagement.

De acordo com o relatório Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações[1], “Portugal é dos países com maior prevalência de problemas de saúde mental (23%), afectando uma em cada cinco pessoas. Em 2022, o absentismo representou um custo de 1,8 mil milhões de euros e o presentismo — trabalhadores com desempenho reduzido — atingiu os 3,5 mil milhões. A perda anual de produtividade ascendeu a 5,3 mil milhões de euros, valor próximo do investimento público em medidas de resposta à pandemia. Exigências laborais elevadas aumentam o risco de doença física em 35% e jornadas prolongadas elevam a mortalidade em quase 20%”.

Termos como burnout, work-life balance e quiet quitting tornaram-se protagonistas. A captação e retenção de talento num mercado global, aliada à nova visão do trabalho como meio — e não fim — por parte das novas gerações, impõe uma revisão profunda das práticas tradicionais.

Neste contexto, o coaching psicológico emerge como uma abordagem estratégica de desenvolvimento, centrada na mudança de atitudes e comportamentos de pessoas e equipas, orientada para a produção/incremento de valor. Trata-se de uma especialidade avançada da Psicologia, conduzida por psicólogos credenciados, com a seguinte banda de intervenção em contexto organizacional.

Ao nível da liderança, promove estilos mais conscientes, empáticos e eficazes. No plano emocional, oferece estratégias para gerir o stress, prevenir o burnout e outros factores de risco psicossocial, bem como incrementar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Ao nível relacional, reforça a comunicação assertiva, a empatia e a cooperação. Também facilita o alinhamento entre valores pessoais e organizacionais, essencial para o engagement e a criação de valor sustentável. Em coaching psicológico trabalham-se também competências transversais como o planeamento, a gestão do tempo, a adaptabilidade e o foco — uma competência cada vez mais fragilizada no actual ambiente digital.

Mais recentemente, o coaching tem sido aplicado ao desenvolvimento de high potentials, uma estratégia eficaz de manutenção do talento, e na promoção da criatividade e inovação. A crescente valorização da saúde mental no trabalho, aliada às exigências sociais e ambientais, coloca o coaching psicológico no centro das práticas modernas de gestão. Organizações emocionalmente inteligentes sabem que o desempenho sustentável começa no bem-estar das suas pessoas. O futuro exige líderes empáticos, equipas resilientes e culturas capazes de integrar tradição, inovação com flexibilidade adaptativa. O coaching psicológico afirma-se, assim, como uma peça-chave dessa transformação.

[1] Ordem dos Psicólogos Portugueses (2023). Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações; Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal.