“Uma imagem vale mais que mil palavras”, cliché que nos habituámos a usar sem grande reflexão, mas que representa uma verdade a cada dia mais evidente.
Tomemos como exemplo a crise migratória que chocou a opinião pública em 2015 aquando do naufrágio que fez 900 vítimas. A indignação generalizada e a pressão, fizeram com que um assunto que tinha tido o seu início três anos antes, que contava já com milhares de vítimas, saltasse para o topo das diversas agendas políticas. O mesmo aconteceu com a imagem do menino morto na praia, como um destroço de barco, um pedaço de “coisa” que o mar devolvia.
Para o bem e para o mal, os media e as redes sociais são hoje os verdadeiros protagonistas da política internacional. Estabelecem prioridades, impõem discussões, mudam mentalidades.
São a nova face da democracia e, como todo o processo, sobretudo quando ainda novo, têm um lado perverso que há que contornar e limitar. Mas indiscutivelmente é aí, nas redes e nos meios de comunicação, que se joga grande parte da segurança internacional. Todos conhecemos a eficaz técnica de recrutamento do Daesh (que é, aliás, a maior agência de comunicação do mundo) e a forma como utiliza a comunicação para difundir o terror. Por outro lado, todos estes meios são ferramentas de investigação indispensáveis nos dias que correm.
Mas a segurança é cada vez mais uma batalha que se ganha pela prevenção, e é aí que os media e as redes sociais têm um enorme papel a desempenhar. Campanhas de sensibilização para comportamentos de risco, para indícios de práticas ilegais, colocam grande parte do ónus da segurança colectiva em cada um de nós.
Porém, à medida que se vai multiplicando, este tipo de comunicação corre o risco de perder eficácia pela sua banalização. Sobretudo quando apela ao abandono de práticas tradicionais enraizadas. Veja-se o caso das festas populares onde o foguetório, malgrado os dramáticos acontecimentos do Verão passado e os inúmeros apelos e chamadas de atenção para o risco de incêndio que representam, continua a ribombar de Norte a Sul do país. Há práticas e mentalidades difíceis de mudar.
A França debate-se com um grave problema de coexistência entre as diversas comunidades migratórias, que, ao longo de décadas e mercê de uma integração falhada, foram construindo guetos. O olhar sobre o outro que é um estranho, o olhar do outro que nos vê como um estranho, cria barreiras inultrapassáveis. A intolerância é o terreno mais fértil para a violência. Daí que assistir ao filme “Coexistir não é fácil” tenha, não só proporcionado um enorme prazer pela qualidade a que o cinema francês já nos habituou, como revelado que é possível realizar uma inteligente e potencialmente muito eficaz campanha pela tolerância.
Desconheço se o governo francês terá co-financiado o filme, mas fica a sugestão a pensar na cinematografia nacional, que continua muito dependente do apoio do Estado: talvez não fosse má ideia ter em linha de conta este papel socializante do cinema na atribuição de subvenções. Sem intelectualismos ou nonsenses que ninguém vê.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.