Isto chegou a um ponto inenarrável.

A evolução no discurso oficial de que “a pandemia – à época epidemia – cá não iria chegar”, até aos dias de hoje em que “o vírus ataca a determinadas horas do dia, ou descansa connosco quando estamos sentados na mesa de refeições, para se levantar e atacar depois”, de todo um discurso profundamente demagógico somos vítimas, nos dias actuais. Pobre geringonça que não sabe mais.

Depois de um percurso cheio de percalços, chega a notícia de que “serão criadas novas camas para cuidados intensivos e mais ventiladores”. Ambas medidas falaciosas, uma vez que não existirão profissionais que manejem umas e outros, sem desguarnecerem os postos de trabalho que abandonarão para o efeito e isto se tal fosse sequer possível.

E assim, morre-se de Covid-19 e de mil e uma patologias mais, porque não há meios nem profissionais que acorram a uns e a outros. Não fossem as autarquias a meterem mão nisto e estaríamos francamente pior.

O que é verdade é que Portugal não se preparou. E se a primeira vaga chegou no fim do período da gripe, a segunda chega no princípio da mesma, com a dureza do Inverno à espreita, já com os profissionais de saúde cansados e com um sistema nacional de saúde a rebentar pelas costuras. Mas o Governo, esse, insiste em atirar-nos areia para os olhos.

Como sobreviver a esta espiral de desinformação? E como, por outro lado, atacar o medo e a ansiedade pela base, filtrando o que nos serve e deitando fora o que é falso, inconclusivo ou que está apenas ao serviço da manipulação? Não é simples. Nada simples, de facto!

Como manter o discernimento, enquanto vemos colegas e familiares a claudicarem, ou mesmo aqueles que outrora nos inspiravam, a porventura tomarem posições que reflectem o desconhecimento do que realmente se está a passar?

E o que se está a passar afinal, ou para que serve sequer este artigo?

No fundo, e desta vez, escrevo para apelar à reflexão, dado o contexto que ora vivemos e as condições observadas, que servem a tempestade perfeita. É preciso mais do que nunca manter a calma, usar a cabeça, respirar fundo.

Uma postura inteligente, será a de recolher e filtrar informação e de, por outro lado, se começar por pecar em excesso de precauções, para se ir eventualmente libertando aos poucos e consoante as conclusões a que se chegue. Mas sempre com rigor e respeito pelo próximo e pela natural observância da lei.

Mens sana in corpore sano – mente sã, em corpo são. Pensamentos saudáveis, alimentação saudável. Suplementação vitamínica consciente e informada. Horas de sono consoante a necessidade, exercícios de manutenção do corpo e uma eventual disciplina espiritual, como ioga ou meditação.

Ao mesmo tempo em que o nosso modus vivendi sofre alterações profundas e o sentimento de comunidade se altera, importa nos virarmos para dentro e resgatarmos o nosso interior profundo, mas sem nos tornarmos ilhas egoístas onde o sentimento de interajuda não prospere.

Estou certo de que a civilização que construímos, não voltará a ser a mesma. A vivência em sociedade idem. A noção de tempo e de espaço, ibidem. Mas existem vários níveis de observação e inúmeros ângulos, pelos quais a nossa lente pode mergulhar e analisar.

A pandemia será uma em África, outra na Europa. Vista de uma forma por um idoso, de outra bem diferente por uma criança. Encarada de uma maneira por quem tem um nível de vida faustoso e por outro, assaz diferente, do lado de quem passa necessidades. Quem se guia apenas pela televisão diariamente, terá uma opinião dos factos e quem o não faz, certamente terá uma leitura diferente. E poderia continuar… E você aí?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.