São improváveis, mas caso se materializem, estes riscos vão condenar a economia mundial a uma espiral negativa. Ou, como lhes chama o seu autor, são “desconhecidos conhecidos” (do inglês, known unknowns) – isto é, circunstâncias que pairam no ar mas que tudo indica que não passam de uma ameaça.
Anatole Kaletsky é o economista chefe e co-chairman da Gavekal Dragonomics, consultora especializada em pesquisa dos mercados globais. Foi colunista do “Times”, em Londres, da edição internacional do “New York Times” e do “Financial Times” e autor de livro “The Birth of a New Economy” que antecipou algumas transformações da economia global que vieram a materializar-se depois de crises económicas.
Anatole Kaletsky toma três factos como garantidos para 2020. É “cada vez mais provável” que a economia mundial continue a crescer, que as taxas de juro continuem em níveis mínimos históricos e que os mercados acionistas continuem a crescer.
“Por isso, em vez de prever o cenário mais provável, que é razoavelmente óbvio, é mais útil considerar os acontecimentos improváveis que poderão alterar este cenário positivo”, explicou Anatole Kaletsky, num artigo publicado pelo banco ING, onde elencou dez riscos improváveis por ordem crescente de impacto na economia mundial no caso de verificarem.
O colapso da indústria automóvel, a repetição da bolha dos dot.com e as eleições presidenciais norte-americanas são os que mais impacto terão na economia global.
O colapso da indústria automóvel
O colapso do setor automóvel é o risco improvável que menos impacto terá na economia mundial. Anatole Kaletsky considera-o um “risco moderado”.
A primeira vítima deste risco seria a Alemanha. “As vendas [de automóveis] colapsaram no ano passado, foi uma devastação para economia alemã, que é de longe a maior exportadora de automóveis e de maquinaria que os produz. A produção na Alemanha está abaixo do nível mais baixo registado na recessão de 2009”, explicou Anatole Kaletsky.
Mas o colapso da indústria automóvel tem outras explicações e “não é um problema cíclico”. É antes “uma tempestade perfeita de preocupações ambientais, alterações sociais e transição energética”, frisou o autor. “Isto significa que a indústria automóvel e as indústrias de engenharia – não apenas na Alemanha, mas também nos Estados Unidos, no Japão e na Europa Ocidental – estão provavelmente em declínio secular que poderá ser tão profundo como ‘desindustrialização’ dos anos 1980”, admitiu Anatole Kaletsky.
“Mas o colapso da procura no ano passado foi tão extremo que é provável verificar-se uma recuperação temporária, o que explica que a indústria automóvel e as indústrias de engenharia não causem um grande problema [para a economia mundial] este ano”, argumentou o autor.
A repetição da bolha dos dot.com
Antes da viragem do novo milénio, as tecnológicas que construíram modelos de negócio alicerçados nos primórdios da internet tinham capitalizações bolsistas muito elevadas. Criou-se uma bolha tecnológica e muitas faliram – os fundamentais não suportavam as capitalizações bolsistas. Em consequência, deu-se a crise das ‘dot.com’ – a Amazon foi das poucas que escapou.
Atualmente, as big tech são das empresas que mais impulsionam os índices bolsistas. Empresas como a Apple, a Amazon, a Facebook e a Alphabet (dona da Google) poderão estar no epicentro deste novo crash. “O risco do setor tecnológico é político e é elevado”, explicou Anatole Kaletsky.
“As big tech já não podem confiar na condescendência dos decisores políticos. Antes, erem vistas como inovadores e agentes do progresso, mas agora são vistos como monopolistas implacáveis que manipulam políticos e exploram os consumidores”, salientou o autor.
O contra-ataque do poder político a este poder das tecnológicas poderá alterar os respectivos modelos de negócios através “da regulação, tributação especial ou até de desmembramento”, antecipou Anatole Kaletsky.
A consequência? “Poderia assitir-se à bolha das dot.com de 2000 e 2002″, disse o autor.
Trump, Sanders ou Warren, três candidatos que não animam a economia mundial
O resultado das eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para novembro de 2020, será ‘indiferente’ se frente a frente estiverem o republicano Donald Trump e os democratas Bernie Sanders ou Elizabeth Warren. ‘Indiferente’ porque, independentemente da cor partidária do próximo presidente dos Estados Unidos, a economia norte-americana e, por arrasto, a mundial, poderão perder fôlego.
“O maior risco é o resultado das eleições presidenciais”, destacou Anatole Kaletsky. Por um lado, se Donald Trump for reeleito, poderá tornar-se “ainda mais protecionista, beligerante e imprevisível no segundo mandato”, adiantou o autor. “É este o consenso do mercado”, reforçou.
Por outro lado, se o seu opositor for Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, “os quatro principais setores da economia norte-americana – saúde, indústria financeira, tecnologia e energia – enfrentarão ameaças de disrupção sem precedentes”, alertou Anatole Kaletsky.
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