Com a disponibilidade para apoiar um governo minoritário de esquerda, Rui Rio foi simultaneamente calculista e pragmático. Mas há coragem também.

Sem mais catástrofes mal geridas, como foi Pedrógão, nem sobressaltos inesperados, é certinho que Costa ganha as próximas eleições. Com um défice das contas públicas abaixo de 1% em 2018, crescimento económico e impostos a baixar, não haverá razão nem argumentário da direita que convença o eleitorado do centro. A dúvida é só se ganha com maioria absoluta.

Na altura de irmos a votos, os indecisos do centro-direita muito provavelmente vão preferir Costa a correr o risco de mais quatro anos de geringonça, com a diferença que, desta vez, o Bloco exigirá pelo menos um ministro. A direita, de joelhos depois de Passos Coelho e das eleições autárquicas mais desastrosas da história do PSD, ficará ainda mais fragmentada, a fortalecer um CDS, esse sim disponível para qualquer arranjo de governo.

Portanto, as contas são simples: se tiver maioria absoluta, o PS governará sozinho mas Rio terá condições para afirmar a sua liderança. Se o PS precisar de coligar, o PSD volta a ser a primeira opção com Rui Rio, coisa que Santana já descartou e que Costa dificilmente aceitaria.

Vistas as coisas deste canto de onde escrevo, do centro-direita, entristece-me a posição difícil a que foi remetido o PSD, mas fica sobretudo a convicção de que é com pragmatismo e taticismo que a direita voltará a ganhar fôlego, não com posições inflamadas mas consequentes. O fundamental é repor o diálogo ao centro e retirá-lo da esquerda de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa e, sobretudo, afastar um cenário em que estes dois partidos reforçam o poder para além do que já têm em sede de Parlamento.

Santana recusa entendimentos antes e depois das eleições. Com isto espera ganhar a primeira etapa, que é a de convencer os militantes do partido que ainda estão ressabiados com o arranjinho de Costa em cima de uma vitória de Passos e, com isso, alcançar a liderança do PSD.

No entanto, para o eleitorado do centro-direita que não vê a política como um derby de futebol mas procura sobretudo governos estáveis e responsáveis, esta posição é perigosa. Porque numa altura em que o fantasma da troika está reduzido a pó e as contas públicas aparentemente arrumadas, aquilo que os portugueses querem mesmo é o que estão a ter: reposição de rendimentos e a perspetiva de impostos a baixar.

A nota que falta fazer é esta: a um dia de eleições no PSD, este facto, e apenas este, parece ser o que os separa verdadeiramente. Lemos o “caderno de encargos” de cada um dos candidatos e pouco ficamos a saber do seu projeto para o país e em que é que seria melhor que a proposta atual. Nada de visão setorial de investimento, de definição das funções do Estado aos olhos da direita, de reforma séria da Justiça. E era sobre isto que o eleitorado desesperançado da direita gostaria de ouvir falar.