A revolução populista que está a varrer uma boa parte da Europa não é um fenómeno conjuntural, por muito que alguns dos seus protagonistas possam ser considerados passageiros.

A ascensão de figuras como Marine Le Pen (que parece destinada a assumir o poder em França), Giorgia Meloni ou Nigel Farage (que ainda esta semana ultrapassou os Tories numa sondagem no Reino Unido) assenta num movimento tectónico que está a mudar o rosto da política europeia, para não dizer do restante mundo ocidental.

Olhando para trás, com a objetividade que o tempo nos permite, podemos compreender que na raiz deste fenómeno estão dois eventos que definiram, em boa medida, esta primeira metade do século XXI. Por um lado, o triunfo da globalização e do modelo liberal, sobretudo após a Queda do Muro de Berlim e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio. As classes operárias e médias-baixas dos países europeus foram muito penalizadas por este processo e, não por acaso, a principal bandeira de Marine Le Pen, juntamente com o tema da imigração, é o combate à globalização.

O segundo evento que provocou os problemas a que estamos a assistir foi, claro, a crise financeira de 2008 e as suas sequelas, incluindo as intervenções da Troika em Portugal e noutros países, que destruíram a confiança de uma boa parte da população nos partidos tradicionais.

No entanto, não é a primeira vez que a nossa Europa enfrenta este tipo de desafios e há lições a aprender com o passado. O populismo e o extremismo só poderão ser derrotados se os problemas que lhes deram origem forem resolvidos.

Há 70 anos, a Europa Ocidental fez face à ameaça soviética com a criação de um sistema que combinava a liberdade económica com um certo nível de intervenção estatal e de políticas de redistribuição. Foi o chamado modelo social europeu, com a economia social de mercado, que deve muito à doutrina social da Igreja e à social-democracia. Claro que os tempos eram outros, a economia europeia estava nos chamados “30 Gloriosos” anos de forte crescimento e era possível implementar este sistema.

Mas o certo é que foi assim, através da melhoria das condições de vida das populações e da redução das desigualdades, que o Ocidente apresentou às suas próprias massas um modelo económico e social que tornava a via soviética – que ainda nos anos 50 e 60 tinha muitos admiradores genuínos na Europa Ocidental – como uma alternativa muito fraca.

Se os partidos democráticos quiserem vencer as derivas totalitárias que estão a emergir na Europa, terão de olhar para as lições do passado e aprender com a moderação e a sensatez dos líderes que reconstruíram uma Europa acabada de sair da guerra e a protegeram das tentações totalitárias. As soluções não serão necessariamente as mesmas (pelo contrário, pode passar pela reforma do Estado para que se possa reduzir a carga fiscal sobre o trabalho, por exemplo), mas o essencial é conseguir melhorar as condições de vida das pessoas, oferecendo-lhes esperança, em vez de aceitar, como se não existisse alternativa, que o caminho passará por mais e mais sacrifícios e perda de direitos em áreas como a saúde ou a segurança social.