Começar um ano novo é como dar início a um livro: todas as páginas em branco à espera de ser preenchidas.

2017 afigura-se como um thriller que pode ser altamente explosivo. O ano que findou deixou uma herança pesada de conflitos abertos e outros latentes, sendo que qualquer um deles pode enegrecer as páginas da história deste ano que começa. O drama dos refugiados e a pressão destes sobre a Europa continua e aumenta a cada dia que passa. O programa de recolocação corre a um ritmo que, dizia há bem pouco tempo um alto dirigente da OSCE, a continuar assim levará décadas até ser concluído.

Neste intervalo de tempo, nos campos de refugiados vão-se construindo estruturas sociais à margem das organizações que os tutelam, transformando-os  em terreno fértil para o recrutamento de elementos que acabarão por engrossar as fileiras do Daesh ou de qualquer outra estrutura que entretanto apareça. Quando não existe um sentido para a vida nada há a perder e é este o sentimento de frustração e desespero que temos vindo a cultivar. As cimeiras sucedem-se, as negociações arrastam-se, as respostas tardam. Demasiado!

Tanto a Este como a Oeste, tudo de novo e nada se afigura promissor.

Por um lado uma administração Trump da qual muito se teme e pouco se espera, se bem que o diabo (aquele que afinal não chegou aqui no ano passado) não seja sempre tão mau como o pintam – o novo presidente dos EUA já começou, aliás, a dar sinais de alguma moderação. No entanto, a sua aparentemente estreita visão da política internacional pode ser um rastilho de pólvora para o mundo inteiro. A arrogância nunca foi boa conselheira em questões diplomáticas e se na gestão de um império económico pode ser uma demonstração de força que reverta em respeito por parte dos seus adversários, em política regra geral tem um efeito boomerang. Sobretudo numa época em que novos e poderosos interlocutores surgem na arena internacional.

Do outro lado do mundo assiste-se aos caprichos bélicos de um menino mimado a quem deram a Coreia do Norte para governar e que agora ameaça tudo e todos com o seu poder nuclear. Figura enigmática e perigosíssima como todo e qualquer ditador, ainda mais quando se crê divino, Kim Jong-un é, a Oriente, a grande ameaça. No meio de tudo isto vamos assistindo impotentes ao alargamento de um ‘Estado Virtual’ que vai fazendo vítimas no mundo real, em atentados cada vez mais ousados, inesperados e brutais.

Mas 2017 nasce também com a esperança de tudo o que é novo. António Guterres assumiu o cargo de secretário-geral da ONU e clamou alto e bom som o seu programa humanista, apelando a todos para assumirem a fraternidade para com o seu semelhante. Só um português para ter esta visão global mas, ao mesmo tempo, tão individual e única que faz a diferença. Oxalá os corporativismos, os lobbies e outros tantos interesses mais ou menos nebulosos, o deixem trabalhar.

Que 2017 seja um ano mais humano, são os meus votos!

A autora escreve segundo a antiga ortografia.