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Comércio tradicional renasce com ‘boom’ do turismo

A “especulação imobiliária” e a subida das rendas levaram ao fecho de muitas lojas, mas há uma nova geração a investir em Lisboa. Em 2018já abriram mais lojas do que fecharam, diz a líder da associação do setor.
3 Agosto 2019, 17h00

“Lisboa tem correspondido perfeitamente à exigência que implica a maior chegada de estrangeiros”. A afirmação pertence a Lourdes Fonseca, atual presidente da União de Associações de Comércio e Serviços de Lisboa (UACS), criada em 1860 e que conta com quase 150 anos de história no apoio aos lojistas da capital portuguesa.

A afirmação da responsável da UACS vai de encontro ao estudo “Atlas de Hotelaria de 2018” da consultora Deloitte, no qual indica que a capital portuguesa registou uma taxa de ocupação de 80,5%, a segunda maior da Europa. Em declarações ao Jornal Económico, Lourdes Fonseca refere que o comércio tradicional tal “como qualquer negócio e como qualquer cidade, quando há um incremento mais do que o esperado, como o que sucedeu na Região Metropolitana de Lisboa com maior procura por parte dos estrangeiros, o que acontece é que se numa primeira fase as pessoas ficaram expectantes, numa segunda fase, como todos os empresários fazem nos seus negócios, adaptaram-se à nova realidade e vão correspondendo às necessidades daquilo que é a procura”.

A presidente da UACS refere que entre as principais tendências do comércio em Lisboa se destaca “neste momento, aliado ao aumento do turismo, um surgimento de novos negócios, quer por startups, quer por pessoas mais jovens a investir em produtos tradicionais portugueses com outra dimensão, assim como produtos novos para corresponder à procura de quem nos visita”, sendo que “por outro lado, temos, de uma forma geral, a modernização do comércio, devido ao facto de economicamente Lisboa ter tido uma evolução muito positiva nestes últimos anos, o que faz com que todo o comércio tenha de se adaptar à exigência dos novos consumidores, através da digitalização dos negócios”, explica Lourdes Fonseca.

Apesar de não possuir dados deste ano, Lourdes Fonseca salienta que em 2018 “existe uma certa equivalência, com maiores aberturas do que fechos” de lojas face ao ano anterior. Já no que diz respeito ao encerramento de empresas a presidente da UACS afirma que “por vezes as gerações seguintes pretendem seguir outro rumo ou devido à Nova Lei do Arrendamento que faz com que estas não consigam suportar os custos e ficam inviáveis economicamente”, salientando no entanto, que existe “uma evolução no comércio com uma nova geração que investe muito na cidade de Lisboa”, sendo o balanço “positivo no número de abertura de lojas”, sublinha.

Questionada sobre se o valor das rendas são comportáveis para o bolso do lojista português, Lourdes Fonseca, refere que tudo depende se “a gama de produtos e a sua adaptação ao mercado, conseguem rentabilizar, ou não, o seu negócio”, até porque “houve algumas que ficaram nitidamente inviabilizadas pelo facto da especulação imobiliária e da Nova Lei do Arrendamento. Mais do que a própria rentabilidade do negócio, esta situação acabou por colocar em risco a viabilidade económica e a continuação para o comércio estabelecido”, explica a responsável da UACS, frisando que em “todas as cidades haverá situações comportáveis e outras que não”.

Em relação aos tipos de apoio dados pela UACS, Lourdes Fonseca, destaca que a entidade tem “muito peso e participação ativa no programa Lojas com História”, bem como “na ajuda para a acreditação e introdução no comércio”, assim como “no apoio ao arrendamento e informações após a saída da nova legislação que consideramos um papel determinante”, acrescentando que a associação proporciona “também todo o apoio jurídico, formação, leis laborais e medicina do trabalho que é necessário”.

Sobre as perspetivas para o futuro a líder da UACS acredita que “este setor vai desenvolver-se bastante”, dado que “nos últimos quatro ou cinco anos tem tido um papel em crescendo e que se tornou determinante na vida da cidade, quer a nível dos habitantes, quer dos turistas”.

Lourdes Fonseca salienta que “neste momento, existe uma procura e um reconhecimento desta atividade e daquilo que o comércio tradicional pode oferecer de diferente e que é muito apreciado” e como tal considera que “é perfeitamente legítimo que haja um crescendo em termos de evolução, quer em número, quer em valor económico para a cidade”.

A presidente da União de Associações de Comércio e Serviços de Lisboa mostra-se por isso confiante no futuro deste setor. “O maior desafio que se coloca ao comércio tradicional é o da digitalização, principalmente para as gerações mais idosas, porém acreditamos que será vencido”, refere.

Artigo publicado na edição nº1998, de 19 de julho, do Jornal Económico

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