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Como estão a poupar água as empresas de produção agrícola

No Baixo Mondego existe um sistema de rede meteorológica, que disponibiliza informação gratuita aos agricultores, que também são avisados por SMS. Na Sovena e na Herdade do Monte Branco os sistemas de rega fazem a diferença.
REUTERS/Robert Galbraith
12 Novembro 2022, 11h00

“É possível poupar”, afirma António Russo, professor adjunto na Escola Superior Agrária de Coimbra e consultor técnico da Associação de Beneficiários do Baixo Mondego, e justifica: “O nosso sistema hidráulico é muito simples, nada que se assemelhe ao controlo avançado dos canais do Alqueva”.

O aproveitamento hidroagrícola do Baixo Mondego compreende a área que vai de Coimbra à Figueira da Foz, inclui o vale principal do rio Mondego e alguns vales secundários nas suas margens, num total que ronda os 12 mil hectares. O sistema tem funcionado graças aos recursos hídricos “bastante generosos” da região, mas existe preocupação quer da Associação de Beneficiários do Baixo Mondego quer da Agência Portuguesa do Ambiente, diz.

No presente, faz-se o trabalho de casa possível. “Falar com os agricultores para pouparem água nas medidas das suas capacidades tecnológicas”, adianta. Nesse sentido, revela António Russo, foi lançado há cerca de dois anos um sistema de rede meteorológica, que disponibiliza informação gratuitamente aos agricultores através de um plataforma. Mais. Todas as quartas-feiras é enviado aos agricultores constantes da ‘mailing list’ da assoicação um aviso de rega, sobretudo para o milho e para a batateira. O recurso às redes sociais para passar a mensagem é prática da casa, o problema é que os pequenos agricultores são parcos em recursos tecnológicos.

Além da comunicação, a Associação de Beneficiários do Baixo Mondego tem vindo a apostar fortemente na experimentação, desenvolvendo projetos com a Escola Superior Agrária de Coimbra. O professor exemplifica com projetos internacionais dedicados ao aumento da existência da água no arroz, que decorrem no terreno há cerca de quatro anos. Os resultados, quando forem apurados, serão partilhados com a comunidade.

António Russo lembra que a região do Baixo Mondego sempre viveu com muitos problemas de inundações ao longo dos séculos. Nos anos oitenta foi objeto de uma grande obra de intervenção que permitiu regularizar o rio e levou à atual configuração da componente hidroagrícola. “É uma obra que ainda não está concluída ao fim destes 40 anos, mas acreditamos que um dia será…” No novo desenho do Baixo Mondego sobressai o milho, que ocupa hoje uns 5.000 hectares, tantos quantos o arroz, que outrora foi dominante. O resto do terreno é ocupado por outras culturas, hortícolas, fundamentalmente, e estufas.

A agricultura é o maior consumidor de água em todo o mundo, Portugal incluído, com cerca de três quartos do total. A consciência ambiental das empresas deve estar presente num mundo marcado pelas alterações climáticas em que a incerteza é, com boa dose de probabilidade, a única certeza.

Herdade do Monte Branco
Em Vendas Novas no caminho para Évora a cujo distrito pertence, há uma herdade com 200 anos de tradição na produção de vinho, que olha para a água com idêntico respeito. “No passado houve algum planeamento… No entanto não esperávamos um crescimento tão grande na Herdade em termos de vinha e olival, por isso fomos crescendo e adaptando o sistema de rega às novas necessidades”, conta José Figueiredo, enólogo da Herdade do Monte Branco, ao JE.

O sistema permite regar com grande precisão as parcelas que estão divididas por necessidade, usando o binómio casta e tipo de solo. José Figueiredo explica: “Com ajuda em medições das disponibilidade de água para as plantas, das necessidades das plantas e nos mapas NDVI, fazemos um planeamento preciso da dotação necessária para a planta. Fazemos ainda enrelvamento que, para além de evitar a erosão do solo, no verão com os cortes o efeito ‘mulching’ diminui a evaporação de água nos solos”.

A adega é outro pilar desta vetusta casa agrícola. De momento, diz o enólogo, “estamos a laborar apenas num pavilhão da antiga adega e conseguimos reduzir o consumo de água fazendo limpezas em circuito fechado, fazendo o reaproveitamento das águas de lavagem”. Precisa: “Usamos quando possível lavagens com vapor, que para além de todas as propriedades de limpeza permite uma limpeza e desinfecção sem utilização de produtos químicos e sem necessidade de enxaguamentos”.

A futura adega em construção, será sustentável em termos ambientais. Para além da estrutura estar a ser pensada para serem facilmente lavados (cubas, chão, paredes e tectos), a própria estrutura de calhas (esgotos) na adega está a ser pensada para haver o mínimo desperdício de água. “Estamos a planear sistemas de lavagem com aproveitamento e monitorização automática de lavagem, permitindo assim diminuir os produtos químicos utilizados nas lavagens. Irá ser também construída uma ETARI e uma ETA para tratamento das águas da adega e posterior utilização em lavagens exteriores e regas das vinhas e do olival”, adianta.

A herdade tem cerca de 200 hectares e além das zonas produtivas há 100 ha de lugares para passeio e observação da natureza. Também aí a água é um factor chave, salienta José Figueiredo: “Estamos a começar a intervir nas zonas envolventes ao futuro hotel, reduzindo e substituindo os tradicionais relvados por prados permanentes resistentes e com baixa necessidade hídrica, assim como a plantação de árvores autóctones, também elas com baixas necessidades hídricas”.

A Sovena e o olival
A Sovena, do Grupo Nutrinveste, é uma das principais empresas mundiais no sector do azeite, detentora das marcas Oliveira da Serra e Andorinha, cuja matéria prima provém dos 7.000 hectares de olival, na sua maioria em Portugal, na zona do Alqueva.

“O olival é uma cultura mediterrânica que está adaptada ao nosso clima e, por isso, é menos exigente em água em comparação com culturas típicas do regadio. Apesar do olival não ser muito exigente em água, esta é um bem precioso que deve ser usado da forma mais eficiente possível”, explica Joana Oom de Sousa, diretora de Sustentabilidade da Sovena, ao Jornal Económico.

O estudo detalhado dos solos antes de desenhar os sistemas de rega permite planear de acordo com “o tipo de solo e o estado da cultura, de forma a otimizar a quantidade de água necessária a cada momento”. Os sistemas de rega eficientes, diz a empresa, otimizam o uso da água, o consumo de energia e são apoiados por dados meteorológicos, sondas de humidade do solo e informações integradas em imagens de satélite, que permitem determinar as necessidades hídricas da cultura e regar apenas quando e onde é necessário. E na quantidade certa.

Segundo a Sovena, mais de 90% da água é totalmente aproveitada pela árvore. A empresa destaca ainda o facto das suas herdades serem auditadas todos os anos, por uma entidade externa, que “reconhece o uso eficiente da água, atribuindo-lhes o título de regante de classe A”.

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