Sensibilidade e bom senso não é apenas o título do famoso romance de Jane Austen. São também duas qualidades indispensáveis, nos dias que correm, para lidar com tudo o que tenha a ver com o sistema financeiro em geral e o sistema bancário em particular.  Basta uma declaração fora do contexto ou desenquadrada para lançar a dúvida nos mercados e nos investidores, ou a preocupação junto dos consumidores e contribuintes.

Foi por isso com redobrada surpresa que assisti à forma como o senhor Presidente da República tratou o tema da necessidade de uma nova injeção financeira no Novo Banco. Em primeiro lugar, por ter sido uma declaração feita à margem de uma visita ao Mercado Social do Rato, em Lisboa. Em segundo, pelo grau de incerteza colocado nas referidas declarações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, segundo o qual e quando questionado sobre o excedente nas administrações do Estado: “Vamos esperar pelas despesas de novembro e dezembro, e vamos esperar por reflexos ou não, este ano, da necessidade de injeção financeira no sistema financeiro”. Acrescentando quando perguntado sobre se a referência era ao Banco Montepio: “Não, não é o Montepio. Se for, é no Novo Banco. Mas não sei se é este ano ou não. Vamos ver.”

Estou profundamente convicto que se tratou de uma espontânea declaração irrefletida do nosso adestrado Presidente, mas que tem inevitavelmente as suas consequências.

Como seria de esperar, as reações de indignação a este hipotético cenário não tardaram, vindas dos diversos quadrantes nas redes sociais e numa altura em que o INE revelava que perto de 20% da população portuguesa vivia em situação de pobreza ou exclusão social, com cerca de 1,7 milhões de pessoas vivendo com menos de 500 euros por mês.

No seu livro “The Economics of Discontent – From Failing Elites to the Rise of Populism”, o autor e CEO da Acheron Capital, Jean-Michel Paul, fala da necessidade de um novo contrato social que recupere a relação entre governados e governantes, retirando território aos populismos. Para isso, é indispensável que os governados entendam emocional e racionalmente as decisões tomadas por esses mesmos governantes e quais os efeitos que, a curto ou mais longo prazo, poderão beneficiá-los ou aos seus agregados e grupos a que pertencem.

Por isso mesmo, e no caso muito especial do sistema financeiro pelo papel que teve nas crises económicas anteriores, é fundamental que cada notícia feita chegar à opinião pública seja caracterizada pela segurança e não pela incerteza. Optar pelo silêncio é, muitas vezes, a melhor resposta. No que toca ao Novo Banco em particular, ninguém seguramente deseja que exista uma nova injeção financeira. E não gostaria de estar na pele de quem, a existir, tenha de explicá-la aos cidadãos.

 

 

 

A novela em que se transformou o relacionamento entre o Livre e a sua deputada eleita, bem como o risível assessor, que recorreu já à segurança da AR para afastar os jornalistas, é uma demonstração pura de amadorismo político. Não tenho dúvidas que ao longo dos próximos quatro anos assistiremos a episódios destes com os novos partidos. É um resultado que não deveria surpreender ninguém. Ferro Rodrigues “salvou a honra do convento” apressando-se a pedir explicações e na demarcação deste inusitado incidente parlamentar.