Numa conjuntura económica volátil e de incerteza, os agentes económicos têm progressivamente adaptado as suas estratégias e decisões aos desafios que a pandemia tem motivado. O mercado de M&A não foi exceção. Com o surgimento do surto e dos elevados níveis de indeterminação sobre como a economia iria reagir, houve períodos de desaceleração acentuados que motivaram o adiamento de negócios e em algumas situações até o seu cancelamento. No estudo publicado pela EY – Global Capital Confidence Barometer – 73% das empresas previam um impacto severo da pandemia na economia global e 39% afirmavam que o impacto na rentabilidade e na margem libertada iria ser elevado.

Não obstante, o mercado e os agentes económicos reagiram e progressivamente retomaram a atividade. As previsões não sendo positivas são encorajadoras com 54% dos inquiridos do mesmo estudo a acreditar que 2021 será o ano de retoma. É, no entanto, inegável que no atual contexto, existem preocupações e riscos distintos que motivam a alteração das estratégias de M&A. Há 12 meses atrás a performance financeira, por exemplo, era um dos fatores fundamentais na tomada de decisão. Presentemente, o histórico de curto prazo não permite fazer essa análise pois os indicadores e comparáveis não disponibilizam de per si toda a informação para uma análise fidedigna, que permita uma tomada de decisão e valorização dos ativos sustentada.

A importância de conhecer a empresa em maior detalhe tornou-se ainda mais relevante nesta fase. Além da viabilidade financeira e fiscal, vertentes imprescindíveis em qualquer transação, obter um entendimento detalhado da operacionalidade da empresa, estrutura de processos, quais os pontos de estrangulamento, de que forma e como está organizada em termos de equipa e respetivas competências, como a tecnologia existente responde às atuais e futuras necessidades de negócio, se os riscos como cibersegurança estão a ser endereçados e quais estratégias comercias e de marketing definidas e implementadas, são alguns dos temas críticos que deve ser endereçados. Independentemente do objetivo da transação, analisar e aferir cada uma destas áreas é fundamental para delinear a estratégia de criação de valor que permita maximizar o investimento a realizar.

No estudo acima referido, 54% dos executivos referem que irão proativamente procurar realizar transações nos próximos 12 meses, contudo referem que a falta de qualidade/informação das due dilegences relativamente aos pontos acima mencionados elevam os riscos de integração/criação de valor normalmente motivados por aspetos relacionados com tecnologia e cultura da organizacional. Por esse motivo, a realização de due diligences operacionais, comerciais e de TI e cibersegurança, revestem-se hoje de um papel fundamental. A informação resultante destas complementa a visão quantitativa financeira e disponibiliza informação relacionada com a capacidade instalada e operacional da empresa, nas suas diferentes vertentes, mas também de alinhamento existente com as necessidades dos clientes e dimensão do mercado. Estes instrumentos são, igualmente, uma fonte de informação privilegiada para o desenvolvimento de planos de criação de valor, focados na integração de empresas ou na otimização operacional das mesmas. O crucial é planear e executar com precisão, tendo em consideração que cada transação tem a sua história e que, portanto, cada uma deve ser projetada na sua plenitude e analisada estrategicamente desde o primeiro momento.

Por esse motivo, cada transação deve ser abordada de forma diferente. Dependendo da sua tipologia, isto é, se é crescimento estratégico/construção de portefólio, consolidação ou escala, transformacional ou tuck-in (integração de uma empresa de dimensão reduzida) a abordagem a seguir tem de ser distinta, contudo deve ter sempre em consideração que independentemente da tipologia cada transação é única e deve ser endereçada como tal.