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Como o dono da Mercadona ajuda startups portuguesas a crescer a partir de Valência

Em Valência, berço da cadeia de supermercados Mercadona, está uma das principais aceleradoras de startups ao nível europeu, fruto do investimento e entrega do seu fundador, Juan Roig. Portugueses que querem conhecer melhor este mercado já usufruíram do “mar” de conhecimento que desagua na Marina de Empresas e que o JE foi testemunhar.
12 Março 2025, 07h00

O Mediterrâneo é testemunha de um projetos mais emblemáticos de Juan Roig, o empresário que lidera os destinos da Mercadona e que investe com a sua fortuna pessoal no desenvolvimento de empresas em início de vida. E apesar do dono da cadeia de supermercados (que escolheu Portugal como o primeiro passo para a internacionalização em 2019) ter uma clara ligação ao retalho, não há limite para as áreas de negócio que aqui são desenvolvidas.

A Marina de Empresas é um polo empresarial situado em Valência responsável pelo apoio ao desenvolvimento de empresas, onde algumas empresas portuguesas deram os seus primeiros passos. Este polo, que o JE teve oportunidade de conhecer, divide-se em três valências, todas estas complementares entre si: a EDEM, uma fundação sem fins lucrativos que funciona como uma escola de negócios e tem como objetivo a formação de empresários, gestores e empreendedores, sempre com o foco na liderança e no espírito empreendedor; a Lanzadera, que se trata de uma incubadora de startups que já apoiou mais de 1300 empresas em início de vida, com um investimento de quase 22 milhões de euros (sendo reconhecida como a melhor aceleradora em Espanha e a sétima da Europa de acordo com o ranking do Financial Times em 2025; e por fim, a Angels: uma plataforma de investimentos que já apostou financeiramente em 54 empresas com um investimento de 36 milhões de euros desde o seu surgimento. Aqui, gestores de investimento decidem que startups merecem investimento e faz-se uma injeção de capital (nunca mais de 20%) naquelas com mais potencial de projeção e crescimento. Investem nas primeiras fases, os gestores de investimento não interferem na política da empresa e ainda é dinamizado, com base mensal, um fórum de investidores que permite com que as startups tenham visibilidade junto de potenciais interessados.

Portugueses à conquista de Espanha

No dia em que o JE visitou a Marina de Empresas, tinham acabado de entrar 125 novas startups, prontas a beber o conhecimento que ali é transmitido e a partilhar recursos e experiências com outras empresas que ali desenvolvem os seus projetos: 350 startups atualmente. A presença de portugueses faz-se notar neste ecossistema, apesar de atualmente não constar nenhuma startup de Portugal a desenvolver as suas atividades. Os portugueses que optam pela Marina de Empresas em Valência têm um objetivo: nascer já com o mercado espanhol no horizonte e perceber como funciona este contexto comercial a partir de Valência. Um traço comum: muitos dos portugueses que aqui chegam são empreendedores mais maduros, já com algumas experiências anteriores mas repletos de entusiasmo para saberem mais sobre este mercado e solidificar o crescimento das suas startups. Estes programas da aceleradora dura no mínimo seis meses e pode chegar a um ano.

Modelo vencedor é referência

Desde 1993 que a Mercadona baseia todas as suas decisões num modelo de gestão denominado “Modelo de Qualidade Total”. Através deste, consegue satisfazer com a mesma intensidade os cinco componentes de toda a Cadeia Agroalimentar Sustentável da Mercadona: “O Chefe”, como internamente denomina os clientes, O Colaborador, O Fornecedor, A Sociedade e O Capital. Na Marina de Empresas, não há ninguém que não conheça este princípio já que é replicado numa série de startups, sempre com o objetivo de o adaptar a cada um dos modelos de negócio que é desenvolvido neste espaço.

A Marina de Empresas também se destaca pelo protocolo com a Google Cloud para a criação de um Datahub que pretende ser um espaço de inovação do uso de dados que faz com que a cidade de Valência seja uma referência nesta área. Assim, este Datahub está à disposição de todos os empreendedores que utilizam a Marina de Empresas, sejam eles alunos, professores, peritos, investigadores e profissionais que desenvolvam atividade nesta área.

Dos mais experientes aos novatos

À Lanzadera chegam todo o tipo de empreendedores e nem todos são jovens. É o caso de Luis que apesar de ter sido um alto quadro do grupo Prisa (um dos mais importantes grupos de comunicação social em Espanha), optou por desenvolver a sua própria startup baseada no conhecimento de muitos anos neste contexto profissional. Após a pandemia, o perfil de empreendedores mudou e alargou-se o leque para profissionais com muita experiência que, por um motivo ou outro, optaram por iniciar o seu próprio negócio. Com 17 anos, o madrileno Sergio Conejo teve uma ideia para criar uma empresa: chegou à Marina de Empresas em 2021 com a ideia de criar uma espécie de “Tinder do talento” e conseguiu angariar 200 mil euros numa ronda de financiamento, algo que lhe permitiu dar os primeiros passos para desenvolver a plataforma. Sergio dedica-se a este negócio a tempo inteiro e garante que a sua plataforma – a Worksible – possibilita a poupança de tempo e dinheiro na escolha de um freelancer para desenvolver um leque variado de trabalhos. Agora, Sergio já olha para Portugal como um mercado natural para expandir o seu negócio.

* O jornalista viajou até Valência a convite da Mercadona

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