Para além do enorme aumento da população mundial nas últimas décadas, que pôs e continua a pôr em causa a sustentabilidade dos recursos do nosso planeta, cerca de 55% desta crescente população vive em áreas urbanas. De acordo com a ONU, é estimado que esta percentagem aumente para 70% em 2050.

Com o que assistimos no século XX, poderíamos antecipar um cenário catastrófico. No entanto, neste século há uma luz que aparece ao fundo do túnel – as cidades verdes e prósperas –, cidades que conciliam níveis de riqueza notáveis com estilos de vida ambientalmente sustentáveis. O simultâneo desenvolvimento económico, social e ambiental pode, afinal, ser uma realidade.

Cidades como Copenhaga ou Estocolmo são geralmente apontadas como grandes referências do que devem ser as cidades do futuro. Estão entre as áreas metropolitanas mais ricas da OCDE, sendo sede de grandes empresas multinacionais, como a Pandora e a H&M, respetivamente. No entanto, lideram também a agenda das alterações climáticas.

Em Copenhaga, 62% dos cidadãos deslocam-se para o trabalho de bicicleta, e todos os habitantes se encontram a menos de 350 metros de um transporte público. Mesmo com um crescimento de 20% dos residentes na cidade desde 2010, conseguiram cortar em 42% as emissões de carbono, tendo como objetivo atingir a neutralidade carbónica em 2025. Estocolmo define essa meta para 2040, mas apresenta já um dos níveis mais baixos de poluição atmosférica entre as áreas metropolitanas da OCDE.

Uma grande aposta de ambas as cidades é o uso da tecnologia em favor do ambiente, desenvolvendo o conceito de smart cities. Por exemplo, em Estocolmo, o ato de deitar o saco do lixo num caixote faz com que este entre num sistema de tubos subterrâneo, através do qual viaja a grande velocidade até uma central, onde os resíduos são tratados. Isto permite a não acumulação de resíduos nas ruas, assim como a diminuição da circulação de camiões de recolha de lixo, o que resulta em menor poluição atmosférica e sonora. Parcerias público-privadas entre as empresas tecnológicas e o poder local têm sido as responsáveis por estes avanços, com um investimento bastante significativo por parte das instituições públicas.

Nestas metrópoles, o desenvolvimento das smart cities é uma prioridade política. No caso de Copenhaga, muitas empresas internacionais têm sido atraídas a fixar-se na cidade, pois querem participar neste processo de construção das cidades do futuro, testando novos produtos e tecnologias.

Nas últimas décadas, as autoridades dinamarquesas têm vindo a desenvolver bases de dados de grande qualidade sobre os seus cidadãos e negócios, que são um ponto de partida fundamental para desenhar projetos inovadores de urbanização e de combate às alterações climáticas. Nas cidades do futuro, o desenvolvimento tecnológico, económico e ambiental andam de mãos dadas.

Em Portugal, nenhuma cidade se destaca desta forma tão veemente, mas Lisboa tem vindo a dar passos muito significativos. Lisboa recebeu o galardão de Capital Verde Europeia, em 2020.

O que levou a cidade a ser alvo de tal distinção? A capital portuguesa tinha traçado o objetivo de reduzir as emissões de carbono em 40% até 2030, tendo essa meta sido atingida 14 anos antes, em 2016, com uma diminuição de 42%. O facto de 85% da população lisboeta viver a menos de 300 metros de um espaço verde e o aumento do uso dos transportes públicos foram alguns dos aspetos que pesaram na decisão do júri do concurso.

No entanto, o próprio vereador José Sá Fernandes reforçou que o prémio não foi atribuído por o município ser o melhor da Europa, mas por, nos últimos anos, muito se ter avançado, e a cidade ter provado ser capaz de continuar a cumprir as suas metas ambientais ambiciosas.

Num estudo realizado pela Siemens em 2009, foi criado um Índice Europeu de Cidades Verdes, onde se analisou o impacto ambiental das 30 maiores cidades europeias. Uma das conclusões interessantes foi a existência de uma grande correlação positiva entre o PIB per capita das cidades e a melhor posição neste índice. Isto confirma que, ao contrário do que se pode pensar, uma maior produção de riqueza não implica ser menos verde. Sem uma economia dinâmica, não existe financiamento das grandes obras públicas de que as cidades do futuro necessitam.

A Área Metropolitana de Lisboa, de facto, situa-se entre as 40% mais pobres da OCDE, em termos de PIB per capita. A aposta numa economia mais dinâmica talvez seja o passo que falta a Lisboa, para que, daqui a uns anos, nos possamos orgulhar de estar na vanguarda das cidades verdes do futuro.

Este foi, aliás, um dos temas debatidos no Economia Viva, ciclo de debates económicos promovido pelo Nova Economics Club e pela Nova Students’ Union, em abril, na Nova School of Business and Economics, e a cujo debate pode assistir aqui. Um tópico que, cada vez mais, urge em ser debatido, para o aumento do bem-estar e felicidade dos cidadãos nas áreas urbanas cada vez mais populosas. Pois este é o caminho para virarmos a página da destruição ambiental.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.