Algumas das profissões mais comuns em 2020 estarão em vias de extinção? A utilização de notas e moedas será quase inexistente? Teremos os nossos objetos, eletrodomésticos e veículos conectados? Os algoritmos serão determinantes nas decisões dos adolescentes? As grandes opções de política pública serão tomadas digitalmente pelos cidadãos? Muitas famílias escolherão a mobilidade internacional como forma de vida?

Numa viagem na A1 poderemos constatar que mais de 20% dos veículos circulam sem condutor? Nas organizações o papel terá sido banido e haverá portugueses com dificuldades em escrever à mão? A cibersegurança será a principal prioridade para Estados e empresas sobrepondo-se à defesa militar? Centenas de milhares de portugueses terão optado por conectar o seu corpo para beneficiar da monitorização permanente do seu estado de saúde?

Posso dizer que o cenário pandémico que vivemos acelerou o interesse que já tinha por ler, ouvir e pensar sobre tendências futuras e o impacto da tecnologia na economia, na sociedade e na forma como vivemos. Recentemente, apresentei a um conjunto alargado de portugueses, 10 grandes tendências que acredito que se desenharão ao longo desta década e que poderemos observar em 2030. Pedi-lhes também que atribuíssem uma probabilidade de 0 a 10 em relação a duas previsões concretas ligadas a cada tendência.

A generalidade das tendências propostas tem grandes impactos na forma como vivemos e é sustentada por inúmeros especialistas nas respetivas áreas. Mas quais se vão concretizar integralmente no final destes 10 anos? Quais irão evoluir na direção proposta, mas precisarão de mais tempo? Quais seguirão outras direções e não se verificarão de todo?

As respostas que obtive surpreenderam-me quer porque algumas das tendências obtiveram probabilidades muito elevadas de se virem a concretizar, quer por ter havido outras que obtiveram uma média de respostas muito díspar entre duas previsões propostas para a mesma tendência.

Uma das tendências que obteve pontuação mais elevada aponta para um crescimento exponencial da aplicação da automação e da inteligência artificial ao longo da década de 20, eliminando gradualmente milhões de empregos na Europa, e criando outros, levando a sucessivos períodos de redução e recuperação do nível de emprego. Algumas das profissões com maior sucesso em 2030 são ainda totalmente desconhecidas para nós!

Pelo contrário, algumas das mais comuns em 2020 estarão em vias de extinção em 2030 por estarem associadas a tarefas que são desempenhadas de forma repetitiva, padronizada e previsível que podem por isso ser substituídas por sistemas automatizados, como poderá ser o caso do operador de caixa de supermercado, cozinheiro em restaurante de fast-food, operário em linha de montagem, fiel de armazém, auxiliar de farmácia ou fiscalizador de estacionamento.

Outra tendência que mereceu bastante confiança dos respondentes está relacionada com o potencial das redes 5G, que arrancam por toda a Europa neste início de década, aplicado à Internet das coisas (IOT – Internet of Things). Esta combinação promete mudar o modelo de negócio de boa parte da economia e transformar a forma como cada um de nós se relaciona com os outros, com a sua casa, com o seu carro, com a sua cidade e os seus objetos.

A conectividade 5G suportará uma multiplicação de sensores acoplados aos objetos e ao longo da década será acompanhada por uma capacidade computacional crescente na cloud e por outras tecnologias que podem acrescentar segurança entre as partes, como a blockchain, criando condições técnicas, sem precedentes, para a descolagem da economia da partilha e da economia circular, mas também para a concretização de casas e cidades inteligentes.

Em relação a uma tendência a que chamei “o adolescente algoritmo”, sugeri que em 2030, os algoritmos saberão sobre um qualquer adolescente português de classe média, mais do alguma vez na história até 2020 se soube sobre qualquer indivíduo, por mais relevante que tenha sido – afirmação que surpreendentemente está entre as que obtiveram maior probabilidade de se concretizar.

O smartphone, tablet, todos os wearables tecnológicos (relógio, roupa ou óculos de realidade virtual) e os seus objetos preferidos conectados (sapatilhas, bicicleta ou mochila) recolherão permanentemente informação que será depois trabalhada por potentes algoritmos. Pela primeira vez na história, alia-se a recolha regular de dados biométricos (como a pulsação ou direção do olhar), a leitura permanente de padrões comportamentais e o poder computacional para correlacionar todos estes dados.

Os algoritmos terão um grande conhecimento sobre cada adolescente, em particular todos os conteúdos (vídeo, imagem, texto) que viu e leu no percurso educativo e em lazer durante anos, onde e com quem esteve (online e fisicamente) e como reagiu a cada interação; saberão o que comprou, em que momento, local e com quem; conhecerão em detalhe a sua capacidade física, a sua capacidade de aprendizagem nas diferentes áreas, as suas limitações, os seus gostos, amores, amizades, inimizades, etc..

Mas noutra questão sobre esta mesma tendência procurei aferir se, em 2030, boa parte das decisões relevantes dos adolescentes portugueses, como a escolha de namorado/a ou da área de estudo serão tomadas sob influência de algoritmos e a probabilidade atribuída foi muito inferior. Talvez possamos daqui retirar que os algoritmos conhecerão cada adolescente melhor do que ninguém, mas também que queremos acreditar que as suas recomendações não serão melhores do que as dos amigos, pais ou avós…