Uma coisa é a realidade, outra – por vezes, bem diferente – é a informação que nos chega, mistificando aspetos essenciais dessa mesma realidade. A propósito dos rumos da economia portuguesa, por exemplo, a propaganda tem prevalecido sobre as evidências concretas. Em benefício de inventário, vale a pena determo-nos um pouco nisto.

A questão central, infelizmente muito descurada por alguns comentadores com tribunas de opinião em órgãos influentes, relaciona-se com o fraco nível de competitividade da economia portuguesa, posto uma vez mais em realce no relatório anual do Fórum Económico Mundial – “The Global Competitiveness Report 2018” publicado no passado mês de outubro.

Portugal ocupa o 34.º posto no ranking da competitividade global, confirmando-se que a nossa economia atravessa um período de estagnação, ao contrário do que alguns proclamam. Já fomos inclusivamente ultrapassados pela República Checa, por exemplo, e temos a Polónia a uma distância cada vez mais reduzida. Isto apesar de estes países terem despertado há menos de três décadas para a economia de mercado e para os mecanismos da democracia representativa.

Um dos indicadores que mais nos penalizam, sem a menor dúvida, é a estabilidade macroeconómica onde avulta o peso da dívida pública relativamente ao PIB.

Ao longo dos últimos anos, caracterizados pela relativa bonança proporcionada por uma conjuntura europeia favorável às economias periféricas, desperdiçámos a oportunidade de reduzir significativamente a dívida, tornando assim inúteis os ventos favoráveis que foram soprando (acentuada redução das taxas de juro e dos custos da energia, associando-se ao crescimento global das economias).

Fomos, pelo contrário, aumentando a vulnerabilidade a ventos contrários, como reflete a evolução do nosso indicador de competitividade, mencionada no citado relatório.

Não tenhamos ilusões: vistos do estrangeiro, continuamos a ser encarados como um país com regras rígidas no funcionamento dos mercados – designadamente o laboral – e uma tributação demasiado gravosa para atrair o investimento, próprias de uma economia ainda pouco recetiva aos estímulos do exterior.

As futuras gerações não perdoarão à atual classe dirigente a perda de oportunidades soberanas para imprimir um cunho mais dinâmico e ousado à economia portuguesa, que permanece pouco competitiva e agarrada a preconceitos atávicos. Este é um dos maiores desafios que vale a pena travar: tornar o nosso modelo económico menos fechado e mais competitivo. Para isso não é preciso inventar nada: basta aprendermos com os melhores.