Ainda não resolvemos os problemas das nossas cidades como as desigualdades, a mobilidade, a poluição, a falta de habitação a preços acessíveis, o turismo de massa, e a pandemia adicionou um novo problema: como mantemos a distância social?

Para enfrentarmos a Covid-19, mas também outras pandemias que possam ocorrer no futuro, temos de começar a pensar em criar espaços públicos seguros, transportes públicos que não estejam sempre em sobrelotação, comércio de proximidade que não concentre muitas pessoas.

Muitas pessoas têm defendido o teletrabalho como uma opção para reduzir o trânsito das cidades. No entanto, em muitas profissões não é possível fazer teletrabalho e em outras significa sobre exploração com a dificuldade de separar os tempos de trabalho do tempo pessoal. Para além disso, toda a comunidade educativa considera que a escola não presencial aumenta as desigualdades na aprendizagem, e, tendo em conta que 20%, das viagens de carro na cidade são para deixar as crianças na escola, manteremos esse tipo de viagens se as famílias não tiverem alternativa.

Para além disso, muitos especialistas consideram possível existir uma relação entre a poluição do ar e a incidência do vírus, pelo que a cidade pós-covid terá sempre de reduzir a poluição atmosférica.

Assim, o investimento nos transportes públicos, aumentando a sua periodicidade e a comodidade, surge como uma prioridade. Da mesma forma, a criação de ciclovias para incentivar a mobilidade suave tem sido apontada como uma solução para reduzir a lotação dos transportes públicos.

Alguns urbanistas têm defendido que devemos pensar nas “cidades 15 minutos”, ou seja, que devemos desenhar as cidades de forma a que as pessoas encontrem os serviços e bens essenciais num raio de 15 minutos em torno das suas casas. A cidade pós-covid também precisa desta lógica para reduzir as deslocações e podermos recuperar espaço urbano aos carros, naturalizando a cidade, aumentando o número de ruas pedonais e investindo em praças e espaços verdes de proximidade.

Recuperar espaço público significa que podemos estar mais tempo juntos, mesmo com distância de segurança. Não podemos continuar a ter uma cidade onde andamos 25 minutos de carro para ir buscar as compras da semana ou para ir ao banco.

Para além disso, em Portugal temos seriamente de tratar do problema da habitação. A falta de investimento histórica na habitação tornou-nos totalmente dependentes da compra da casa individual, aliás achamos que é a única hipótese. Assim, há milhares de famílias que vivem em condições de habitação precária e de sobrelotação.

Mas não se pode fazer isolamento social sem casa ou numa casa sobrelotada. É preciso um grande programa de construção de habitações públicas a preços controlados para as classes médias e baixas e são necessários mecanismos de controlo do mercado de arrendamento, como um teto máximo às rendas. Estas são realidades noutras cidades como Berlim, Viena ou Barcelona, mas em Lisboa ou no Porto esperamos que o mercado desregrado trate de tudo.

O importante é que responder aos desafios da cidade pós-covid pode ajudar a resolver os problemas clássicos da cidade. Ou seja, se adaptarmos as nossas cidades para serem mais seguras e resilientes ao vírus, estamos também a trabalhar para reduzir as desigualdades, os problemas de mobilidade e a falta de habitação.