Nos últimos tempos, têm surgido manchetes e conversas de café (e redes sociais) a proclamar que “férias no Algarve estão mais caras do que nas Maldivas”. Esta comparação tem tanto de viral como de absurda. É o clássico exercício de comparar laranjas com maçãs — ou, neste caso, sardinhas com lagostas — ignorando o contexto, os públicos e a natureza profundamente distinta de cada destino.

Comecemos pelo mais óbvio: a sazonalidade. Agosto é, para Portugal, o pico da época alta. Para as Maldivas, é praticamente época de saldos. Estamos, portanto, a comparar o Algarve no seu auge — com praias cheias, restaurantes lotados e hotéis à pinha — com as Maldivas em pleno calor húmido e chuvas tropicais. É desonesto e intelectualmente preguiçoso.

Depois, há a questão da segmentação. O turismo não é um produto único e homogéneo. É um setor plural, que vai desde mochileiros que contam tostões até clientes que não olham a preços no Ritz-Carlton. Ainda bem que assim é. O turismo deve continuar a ser um “luxo” acessível a muitos, mas também precisa de oferecer valor a quem procura (e paga por) experiências de excelência. Esta variedade é essencial para criar um setor económico resiliente, com impacto positivo e sustentado no território.

A ideia de que o Algarve só será competitivo se for barato é um erro estratégico. A lógica da escolha entre volume e valor aplica-se aqui como em qualquer outro setor. O modelo baseado exclusivamente no turismo de massa, de sol e copo na mão, pode encher hotéis e bares por umas semanas, mas não cria valor duradouro para a região — nem protege a sua identidade ou recursos.

É preciso ambição. E coragem para subir o nível. O Algarve não precisa de ser acessível apenas aos britânicos em regime de “all inclusive” com cerveja à discrição. Precisa de apostar em experiências autênticas, produtos de qualidade, gastronomia local, sustentabilidade ambiental e hospitalidade de excelência. Isso não significa elitizar, mas sim qualificar. Significa dar ao turista mais do que sol: dar-lhe alma.

Já estive nas Maldivas — duas vezes — e, com todo o respeito pelo nosso Algarve, só com febre alta se troca aquele paraíso tropical por Portimão em agosto. A comparação é ingrata, irrealista e, acima de tudo, irrelevante.

Portugal, e o Algarve em particular, tem de parar de medir o seu sucesso turístico ao centavo e ao copo vendido. A verdadeira diferenciação está na capacidade de oferecer experiências únicas, ligadas à nossa cultura, ao nosso mar, à nossa forma de receber. Precisamos de deixar de competir por preço e começar a competir por valor. E isso só se faz com visão e com alma, não com memes.