Recentemente, li uma entrevista de uma personalidade portuguesa, com responsabilidades diretas nos destinos da competitividade e planeamento do país nos últimos 30 anos, a comissária europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira. Apresentou um facto evidente de que já temos “o Norte, Centro e Lisboa classificadas como regiões tecnologicamente avançadas em investigação e inovação e, no entanto, em termos de PIB, estamos muito em baixo”.
Mas depois apresenta uma solução inacreditável, isto é, que devemos continuar a investir no que supostamente ainda “falta de infraestruturação e depois pensar em entrar nos níveis altos de competitividade”.
Não entrando em temas de responsabilidades políticas de quem proferiu as declarações e focando apenas no que foi dito explicitamente nesta entrevista, só posso discordar das afirmações. Se há um reconhecimento das capacidades tecnológicas do país, mas uma incompreensível incapacidade de as transformar em produtividade e competitividade do país, qual a lógica subjacente?
A medida proposta não é investir na mudança.
Albert Einstein disse que “insanidade é continuar sempre a fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes”! É pois essencial alterar as estratégias e medidas políticas no país.
Depois de anos de investimentos fundamentais em infraestruturas, quer físicas, quer digitais, em particular desde que em 1985 Portugal aderiu à então Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia, é mais do que tempo de investir na competitividade do tecido empresarial e, em particular, nas competências digitais. Se não o fizermos, arriscamo-nos a ser ainda mais ultrapassados pelos já poucos países da União Europeia que ainda não o fizeram.
Alguns dos maiores problemas de Portugal centram-se nesta produtividade e competitividade onde a liderança das empresas, a definição e ambição estratégica, a metodologia e sistematização de tarefas de execução, a capacidade de retenção de talentos, a política remuneratória e fiscal, a melhoria contínua da qualidade de produtos e serviços, as apostas e investimentos na investigação e desenvolvimento, as competências digitais avançadas dos recursos humanos, são apenas alguns dos exemplos daquilo que deveriam ser as prioridades.
O pouco que é feito não permite a Portugal manter-se (já nem digo liderar) no panorama da competitividade empresarial internacional.
A cultura do país se “contentar com poucochinho”, ou seja, a falta de ambição generalizada é o nosso mal. A falta de exigência interna e o facilitismo traduz-se no laxismo e no politicamente correto, deixando espaço para que outros países ocupem o espaço que ficou por ocupar.
As infraestruturas são naturalmente importantes, mas na sua grande maioria já estão num grau elevado de maturidade no nosso país. Foquemo-nos na exigência da produtividade e competitividade. O mercado hoje não tem fronteiras. As empresas já não estão a competir com o vizinho do seu bairro ou região. O mercado hoje é global, é digital, e a concorrência está à distância de um clique vinda do outro lado do mundo. Entender esse facto e antecipar o futuro é fundamental para quem lidera o país e as empresas. Foquemo-nos aí, exigindo e financiando as empresas que claramente procuram acompanhar esta transformação digital.
Se não fizermos esta mudança estratégica, arriscamo-nos a querer (continuar a) jogar com uma equipa dos distritais na Liga dos Campeões. E se assim for, imagino que facilmente se antecipe qual será o resultado do jogo…