As poeiras caem do céu, cobrindo paredes, janelas, passeios. As filas para as lavagens de carro aumentam: não se consegue encontrar uma lavagem que não tenha pelo menos cinco carros à espera. O verão chegou, entrou de mansinho, depois deu-se a ver com mais intensidade, e por ora estabilizou.

O verão é sempre um período difícil. Os ritmos desaceleram, mas a realidade parece ficar mais intensa e exposta. Todos sonham com o descanso desejado que o mês de agosto (ainda) promete, mas sabem que até lá ainda há meio junho e muito julho pela frente. Os estudantes têm exames para realizar, os trabalhadores prazos para cumprir; muito vai correr ainda antes de se conseguir desligar e ir para a praia, para o campo, cá dentro ou lá fora.

Este não é um verão comum. A pandemia e os seus efeitos continuam a assombrar grandes partes da Ásia da América do Norte; a guerra na Ucrânia não dá sinais de cansaço; as cadeias de distribuição estão quebradas, e a energia escasseia; os preços sobem, as bolsas descem, e a incerteza paira. Pelo menos são estas as notícias.

Há quem diga que vamos entrar em crise, mas parece-me é que não conseguimos sair dela. Sim, está sol, a temperatura da água é boa, mas os serviços públicos hospitalares estão a quebrar; o preço da comida aumentou, tal como o empréstimo da casa, e os salários continuam baixos. Há quem passe pior – há quem esteja em guerra – mas, sendo franco, não parece que este nosso retângulo à beira-mar plantado esteja, enquanto país, muito bem.

É a terceira vez que as nuvens de poeira chegam e afetam o ar nacional. Estamos muito expostos (como sempre) aos contextos do mundo e às suas complexidades. Temos pouca estrutura para reagir a adversidades, e temos pouca convicção na busca de caminhos melhores, que nos tornem mais resistentes. Preferimos uma certa paz, uma certa segurança, um certo tédio, muito silencioso e bucólico, mas nocivo e lentamente letal. Precisamos de crescer para conseguir distribuir, e salvaguardar uma esperança de futuro. Dizem que a segurança social está condenada, que o sistema educativo nos limites, que os hospitais funcionam por milagre, e a justiça…

O verão é sempre um período difícil: quente, intenso, a pedir descanso. Depois o ano continua, com novas energias e desafios. Só que estes parecem ser maiores e mais difíceis do que esperados. Iremos crescer? Ou os nossos serviços sociais rebentam antes? Não se veem projetos de reforma, não se vê convicção na ação política, não se vê um caminho. Sinais, alarmes, avisos? Apanhamo-los todos, e construímos um muro, que aumenta de dia para dia. Mas como derrubá-lo?

É difícil, e é complexo, mas precisam-se de respostas. De estratégias e de planos, de ideias para o curto, médio e – importante – longo prazo. Anteveem-se longos e difíceis invernos, no horizonte.