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Compra de comboios pela CP em 2018 desperta apetite de fabricantes mundiais

Após dez anos de interrupção devido à crise financeira, a CP vai renovar a frota. Espanhóis da Talgo iniciaram a corrida.
José Alberto Sanchez
15 Janeiro 2018, 07h15

A Talgo, fabricante espanhola de comboios de médio e longo curso e suburbanos, foi a primeira fabricante mundial do setor a assumir o interesse, em concorrer ao futuro concurso para compra de material circulante que a CP deverá lançar em breve, com a publicação do respetivo caderno de encargos prevista até ao final do primeiro trimestre deste ano. Num encontro que decorreu na passada terça-feira com vários jornalistas portugueses, João Constantino Meireles, responsável pelo desenvolvimento de novos negócios da Talgo para Portugal e para a América Latina, revelou que “temos tido contactos vários, estreitos e permanentes desde há vários meses com a CP sobre esta matéria”.

“Como não conhecemos quaisquer pormenores sobre o caderno de encargos, temo-nos baseado no caderno de encargos publicado em 2008, no último concurso lançado para compra de material circulante para a CP, concurso que depois foi anulado em 2009”, assumiu José Manuel Constantino nesse encontro, que incluiu a visita a uma das fábricas que a Talgo gere em Espanha, em Madrid.

A anulação desse contrato da compra de comboios pela CP resultou da crise financeira em que Portugal entrou nessa altura. No respetivo caderno de encargos, a CP compreendia a aquisição de mais de 70 comboios, em bitensão e a diesel, num valor de investimento na altura avaliado em cerca de 370 milhões de euros de valor-base. Os comboios que a CP pretendia adquirir iriam destinar-se a modernizar o serviço regional, a linha de Cascais, os suburbanos do Porto e a linha de suburbanos do Sado. Nesse pacote, estavam previstas opções suplementares para a compra de comboios para os serviços suburbanos de Lisboa e para o segmento de longo curso da CP.

Sobre o concurso que está a ser preparado, fonte oficial da CP confirmou ao Jornal Económico que “o processo do concurso internacional de aquisição de material circulante está em preparação, conforme já anunciado pela CP e pela tutela [Ministério do Planeamento e das Infraestruturas (MPI)]”.

“Será, naturalmente, realizado ao abrigo da legislação em vigor, obedecendo a todos os requisitos e formalidades necessárias para este tipo de procedimentos”, acrescentou a mesma fonte da transportadora ferroviária nacional, sem adiantar mais pormenores. Também questionada pelo Jornal Económico sobre o assunto, fonte oficial do MPI confirmou apenas a data-limite prevista para o arranque do concurso.

Durante o debate na especialidade do Orçamento de Estado para 2018, a 6 de novembro passado, Pedro Marques revelou na Assembleia da República que a CP iria, até ao final de março, ser responsável pelo “início de um programa” de material circulante. Segundo as declarações do ministro nessa ocasião, para o ano de 2018 estava prevista a aquisição de oito comboios bi-modo (com alimentação elétrica e a diesel em simultâneo), com um custo estimado de 60 milhões de euros. Pedro Marques defendeu na ocasião que essa é uma “clara opção” pela promoção de coesão territorial, explicando que assim se iria suprir as dificuldades que existem em linhas como a do Douro, Oeste ou Alentejo, e criar as condições técnicas para que os passageiros possam vir a circular nessas linhas sem necessidade de transbordos.

O ministro do Planeamento e das Infraestruturas adiantou que a CP iria no presente ano proceder à modernização de 35 comboios (unidades), com destaque para intervenções em 10 dos serviços regionais 14 dos serviços urbanos.

Diversas fontes do setor contactadas pelo Jornal Económico consideram que a compra de oito comboios pela CP é manifestamente insuficiente para as necessidades de renovação da frota que a transportadora ferroviária nacional enfrenta, embora Pedro Marques tenha referido que esse é o início de um programa de aquisição de material circulante por parte da CP, podendo haver novos desenvolvimentos na segunda metade do ano ou nos próximos anos.

A dimensão alegadamente reduzida deste primeiro concurso também poderá refrear alguns potenciais interessados entre os fabricantes mundiais de comboios. Enquanto não forem esclarecidas estas dúvidas no caderno de encargos é natural que a maior parte deles se mantenha no silêncio, mas antevê-se grande concorrência dos grande fabricantes internacionais. Aquando do último concurso, falhado, participaram na corrida a Siemens (Alemanha), Alstom (França), Bombardier (Canadá) e CAF (também de Espanha). Nesse concurso, a Talgo não participou, sendo esta vez o primeiro grupo a apresentar-se a jogo.

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