Está quase a começar a campanha para as eleições – as americanas, claro – e as gafes dos candidatos prometem. Por cá, são os cartazes com desempregados que têm salários de milhares de euros e doentes que correm a maratona, as promessas de óculos de sol aos cegos e patins aos paralíticos, mas não há como os americanos. Não prometem dinheiro, casas e carros, antes contam histórias de fazer chorar as pedras da calçada e apresentam imagens patrióticas que fazem o pessoal ouvir mentalmente o hino.

Num destes momentos, Joe Biden, democrata, contou uma história de um heroico capitão da Marinha que recusou as honras que lhe quiseram fazer. O problema é que a história que ele contou nunca aconteceu, são bocados mal colados de três histórias com muito romance pelo meio. Algum americano se ralou? Não, ele nem chega aos calcanhares do “Liar-in-Chief”, como diz Julian Zelizer.

Sim, o campeão do Reino, daqui e d’além-mar do outro lado do Atlântico, dos Mares do Sul e da Coreia do Norte é Donald, aquele que se referiu à sua passagem na Casa Branca como a “Age of Trump”. Claro que isto deu muitas piadas nas redes sociais. À pergunta de alguns, “what is the Age of Trump?”, Dave Zirin respondeu no Twitter: “rougthly six and a half”. Tem que se dizer em inglês, pois em português não dá para fazer o trocadilho: a “idade de Trump” (73 anos) não é o mesmo que a “Idade do Trump”, como a Idade da Pedra ou a Idade do Bronze, mas para pior.

Os mais mauzinhos lembram que nem o Adolf se atreveu a falar da “Idade do Hitler”, apenas do Terceiro Império, mas sejamos honestos: Trump não pode falar de império pois isso irritaria o despenteado do lado de cá do Alântico, que com Trump, Putin e Kim Jong-un formam as quatro cabeleiras do Apocalipse. Jeremy Newberger aponta para a confusão com “aging of Trump” que, sim, tem existência real. Aliás, Trump é como a ressaca, que piora com a idade (os cientistas provaram que é porque o nosso metabolismo abranda).

A minha teoria sobre o sucesso de Trump é diferente, e esta campanha eleitoral vai prová-la. Trump é efetivamente inovador. Tem uma abordagem revolucionária da política, baseada em dois princípios. Primeiro, a self-deception: convence-se a si próprio de que uma coisa é mentira para não revelar que sabe que ela é mentira. Uma tarefa árdua, até para ele. Um exemplo é as fake news. Segundo, o seu processo construtivo é negar a negação, assim como arrumar é semear a confusão na desarrumação. Veja-se, por exemplo, a sua política comercial, que dois terços do planeta (e todo o G20-1) diz que está errada porque estão convencidos que ela existe.

Será que esta abordagem vai funcionar? Se alguma dúvida há na matéria, recordemos que em 2016 Trump teve menos três milhões de votos que Hillary. Ganhou a presidência perdendo as eleições.