Perante a notícia da reforma de Robert Redford, anunciada pelo próprio há dias, dei por mim a refletir sobre a sua extensa filmografia, onde é inegável o fascínio do ator pela política. “O Candidato” de 1972, realizado por Michael Ritchie, é um dos seus filmes mais memoráveis e capta na perfeição a hipocrisia e o absurdo que rodeia uma campanha eleitoral. Sob o lema “A Better Way”, o candidato John McKay interpretado por Redford é um político idealista que constrói o seu caminho até ao dia das eleições, abdicando em grande parte dos seus valores e cedendo ao peso opressivo da máquina partidária.

Mais de 40 anos depois, quão diferente seria atualmente a campanha de McKay? Para começar, o público de hoje não ficaria verdadeiramente surpreendido com a forma como o candidato cedeu nos seus valores para obter ganhos políticos. E, certamente, não ficaria surpreendido com a necessidade de performance em torno da campanha política.

Além disso, McKay não estaria exclusivamente dependente do impacto na televisão, mas teria ao seu dispor toda uma panóplia de ferramentas digitais onde o contacto imediato com o eleitor poderia incentivar a sua candidatura, mas também contribuir para a sua queda, caso desse um passo em falso nas suas contas de Facebook, Twitter ou Instagram.

Olhando para o caso particular de Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República inaugurou um estilo muito semelhante ao de um reality show em que se submete constantemente ao escrutínio das câmaras de televisão. No meio das suas encenações, chama (ou desvia) a atenção para as questões do dia. A sua aparente naturalidade já conquistou adeptos, mas também detratores que questionam o excesso mediático.

Não é fácil esse estilo arriscado. Ainda esta semana António Costa publicou fotos no Twitter que mostram o primeiro-ministro no seu gabinete a acompanhar a situação dos incêndios de Monchique, tendo causado uma reação negativa inusitada por muitos sentirem que as fotos transmitiram “falsidade”.

Mas o que diferencia realmente os casos de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa? Não serão ambos reflexo deste novo tempo mais imediato, mais célere e mais exigente em termos de presença e ação?

Estamos prestes a entrar em período pré-eleitoral e à medida que se aproxima 2019, ano de europeias, legislativas e eleição do Governo Regional da Madeira, iremos assistir a estratégias de comunicação cada vez mais agressivas, em que voltarão em força os slogans banais, os outdoors ruidosos, os comícios de campanha, sendo que tudo não passará de uma encenação perante os jornalistas que estão lá para garantir a visibilidade.

No entanto, muito do que funcionava anteriormente é hoje obsoleto. O financiamento e as táticas de sempre não bastam para ganhar eleições. Uma estratégia de comunicação inovadora e eficaz que saiba dar a volta à velha queixa de que “os políticos são todos iguais” será fundamental a partir da próxima rentrée política. Resta saber se os partidos políticos portugueses já compreenderam isso e se querem de facto reduzir a abstenção.