As mais recentes estatísticas do Banco de Portugal confirmam duas tendências muito claras: o crédito à habitação e o crédito às empresas estão a diminuir. Estas duas tendências ocorrem em contraponto ao que está a acontecer na zona euro, onde as duas tipologias de crédito estão a aumentar as suas taxas de variação homólogas.

Apenas o crédito ao consumo tem vindo a incrementar a sua concessão em Portugal, em termos homólogos, e acima da variação na zona euro. Nesta coluna, demos nota anteriormente que muito deste crédito, que é concedido fora do sistema bancário clássico, não tem a mesma prudência dos bancos e, aqui e acolá, resulta da prática de técnicas de rapina, de créditos instantâneos, em que o mutuário ganha dinheiro não tanto com o empréstimo mas essencialmente a cobrar atrasos, juros de mora e a executar.

O abrandamento do crédito à habitação parece ser o efeito conjugado de duas circunstâncias. A primeira diz respeito às recomendações do Banco de Portugal, introduzindo limitações quanto aos rácios de empréstimo/avaliação, prazos e taxas de esforço. A segunda está relacionada com o efeito de ‘derramamento’ que o aumento dos preços nos centros das cidades do litoral (provocado pela procura de residentes não habituais, não apenas os vistos Gold, e investidores na hotelaria e alojamento local) está a ter nos preços das periferias, provocando a incapacidade e a retracção das famílias.

Com o investimento público em mínimos históricos, com a produtividade estagnada em muitos sectores, com o motor das exportações notoriamente a abrandar, mais do que nunca o investimento das empresas é vital para aumentar o valor dos produtos, qualificar o trabalho, remunerar melhor os accionistas e os trabalhadores.

Neste contexto, o facto de a concessão de crédito às empresas não financeiras estar em queda (taxa de variação homóloga de -0,6% versus +2,6% na Zona Euro), numa altura de expansão económica, é muito preocupante.

Seguramente que há muitas e variadas explicações. Na ausência de bases empíricas, perdoem-me os leitores, mas tenho também uma visão muito clara sobre o tema: a devassa em curso sobre a concessão e as operações de crédito, que alguns querem fazer na praça pública, recuando aos últimos 20 anos, tem como efeito prático a retracção dos decisores actuais de crédito. Ao criar um efeito halo, onde medram inibições e preconceitos, minimizar riscos, de toda a ordem, parece estar a ser o mote dos actuais decisores.

Inibir, ou fazer retrair, para além do razoável, os processos de tomada de risco nos bancos tem um impacto demasiado penalizador para o desenvolvimento económico. O preconceito contra os bancos, os banqueiros e os bancários já ultrapassou o limite do razoável e, mais tarde ou mais cedo, vamos ter de regressar a um ponto de equilíbrio e de razoabilidade.

O risco faz parte da economia de mercado. Haverá sempre incerteza e por essa via negócios que fracassam. O que não pode ocorrer é uma retracção do risco, suscitada não por critérios técnicos mas por uma agenda política e mediática conjuntural, com evidentes efeitos negativos para o crescimento económico e para a nossa prosperidade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.