Com efeito, existe a sensação, direi quase irreversível, que este Governo de maioria absoluta do PS se encontra numa via algo agonizante. Donde um sentimento de aproximação do fim do ciclo – poderá, contudo, durar até 2026 – face ao desgaste do Governo, desgaste este que potencia um sentimento de necessidade de existência de uma alternativa política (não tenho dúvidas que moderada e com preocupações sociais). E aqui ainda permanece alguma indefinição e turbulência face aos dados revelados por recentes sondagens de opinião.
Por sua vez, a meu ver, já não terão efeitos práticos com impacto eleitoral aquilo que a governação de sete anos conseguiu produzir, relembrando aqui algumas reversões de situações que criaram crispação no período da troika bem como a subsequente necessidade de estabilização do sistema financeiro (preocupação em que o Governo e o Presidente da República se envolveram com alguma discrição mas eficácia); a luta enérgica contra uma inesperada pandemia (com medidas sanitárias, económicas e financeiras visando proteger famílias e empresas).
Acrescem os apoios financeiros pontuais destinados a compensar os efeitos da subida dos preços decorrente da guerra na Ucrânia; a manutenção de satisfatórios níveis do desemprego, se bem que já se vêm identificando pequenos sinais de evolução desfavorável neste domínio, consequência inevitável do teor restritivo da política monetária do Banco Central Europeu (subidas de taxa base de juro como forma de contrariar a subida dos preços), entre outros factos.
Mas se a mudança de cor política ao leme do governo se me afigura como uma probabilidade quase natural – insisto, embora possa enganar-me – tal não significa que não se espere ainda deste Governo uma visão e medidas que tentem resolver ou mitigar diversas questões estruturais, nomeadamente na luta contra a inflação e em domínios sociais chave – e muito ligados aos serviços públicos – como são a saúde, a habitação, educação. E obviamente a melhor execução possível do vultuoso pacote financeiro que é o PRR bem como a resolução dos dossiers TAP e Aeroporto…
Em particular, no âmbito deste esforço reequilibrador que o Governo tem de começar a dialogar e a encetar desde já, considero como relevante, e a título de exemplo:
- os resultados concretos graduais das medidas de gestão e de investimento na sequência do trabalho da recém-criada Direção Executiva do SNS;
- uma política de habitação que resulte da possível consensualização à volta do documento recente que passou(?) por um debate publico e que permita que se possa visualizar – ainda que parcialmente – resultados concretos num horizonte breve;
- uma política de gestão global da classe dos professores (incluindo o recrutamento, avaliação e remuneração e tendo em vista que num horizonte mais lato se prevêem fortes carências destes profissionais);
- o cumprimento do que foi acordado na concertação social em termos de rendimentos e competitividade;
- privatização da TAP e a localização do futuro aeroporto de Lisboa. Mais especificamente em matéria económica incluo;
- as estratégias de contenção da subida de preços nos bens alimentares de primeira necessidade bem como de apoio directo às famílias mais carenciadas e da classe média em termos de compensação minimamente robusta da perda de poder compra que as condiciona sobremaneira;
- a já referida execução do PRR como agente modernizador da economia em geral e dos serviços públicos mais degradados (aposta no investimento público);
- um eficaz planeamento e execução dos fundos do Portugal 2030 destinados à dinamização da atividade empresarial (capitalização, inovação tecnológica, melhores práticas de gestão) com o devido enquadramento numa política de reindustrialização inserida no espaço europeu;
- e, dentro do que for razoável, a descida da carga fiscal como instrumento libertador de fundos para os agentes económicos privados potenciando, assim, a respectiva contribuição para um maior crescimento económico e criação de riqueza que posteriormente poderá ser melhor distribuída.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.