O crescimento económico do país tem sido anémico durante este século. A conclusão vem em muitos estudos académicos, mas as afirmações feitas há uma semana no V congresso da SEDES traçam um diagnóstico tremendamente negativo.
O desenvolvimento económico e a “saúde” das finanças públicas foram tópicos de debate ao longo da semana, sobretudo ao nível das redes sociais.
1. Mais uma vez, o público eleitor volta a questionar-se sobre a orientação dada a todos os dinheiros que o país recebe, desde 1986, da CEE e depois da União Europeia, e que foi literalmente delapidado.
Primeiro, com o dinheiro que veio para a formação do Fundo Social Europeu, e neste caso houve furto direto, e depois com os dinheiros que vieram e serviram para a notoriedade dos governos e obras de fachada, sendo que aqui Cavaco Silva foi pioneiro.
Relembremos um estudo pré-pandemia feito por investigadores da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, que data de outubro de 2019 e se encontra acessível na internet.
Este trabalho tem particular interesse porque demonstra, de forma inequívoca, a convergência para a média do rendimento da União Europeia a 14, logo depois da entrada na CEE em 1986 e que durou até final do século passado. Depois, foi a estagnação, a crise da dívida e três pedidos de ajuda externa, ocorrendo os dois primeiros no final do século passado.
Salientam os investigadores deste trabalho que o PIB per capita real de 2018 foi apenas cerca de 8% superior ao de 2000, o que significa um crescimento médio de apenas 0,5 pontos percentuais ao ano. Pior do que nós só a Grécia, enquanto a Irlanda descolou definitivamente.
No momento atual, o que se discute é o potencial do Plano de Recuperação e Resiliência, do qual já recebemos a primeira fatia em agosto último e que ao longo de cinco anos se traduzirá em 16,6 mil milhões de euros. Poucos acreditam na bondade desta injeção de capital e na capacidade de induzir à reindustrialização do país.
O cidadão comum minimamente informado acredita que se caminha no sentido contrário, i.e., com os fundos a serem aproveitados para promover quem está no comando político e não para se fazer obra estrutural e preparar o futuro.
Curiosamente, nos recortes do “DN” sobre notícias de há 100 anos, a temática era a mesma. E as obras literárias de Eça de Queirós bem o refletem.
Só falta a Portugal ser ultrapassado por países como a Roménia, sendo que, no atual modelo, caminha para ser o “lanterna vermelha” da Europa. A SEDES foi um ponto de encontro onde esse receio ficou refletido. Restará ao primeiro-ministro dessa altura lutar junto de Bruxelas em prol de um novo alargamento a países e regiões mais pobres do que nós, talvez a Albânia e o Kosovo. Só assim deixaremos de ser o “lanterna vermelha”.
2. Afinal sempre é possível governar sem Orçamento do Estado (OE) aprovado. Eleições no final de janeiro quer dizer OE em junho, mas por aquilo que os ministros do atual Governo vão dizendo, pouco ou nada deixará de ser feito pelo facto do país estar sem orçamento. Se na semana passada perguntávamos ‘quem tem medo de eleições’, esta semana outra pergunta se coloca: quem tem medo de viver sem Orçamento? A Bélgica tem tido sucesso. Nada é inultrapassável.