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Confederação do Turismo diz que PRR ignora o sector

A grave crise no sector do turismo afeta particularmente o Algarve, onde março de 2021 foi o pior mês de sempre. CTP afirma-se “muito preocupada”
1 Maio 2021, 19h00

A crise no sector do turismo vai levar tempo a passar. Só será ligeiramente atenuada no verão de 2021 e o Algarve será a região de Portugal que sofrerá mais, pagando uma “fatura” pesada, quer para os trabalhadores, quer para as entidades patronais. No meio desta crise, a Confederação do Turismo de Portugal (CTP), desagradada, sente que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ignorou o sector turístico.

Em declarações ao Jornal Económico (JE), Francisco Calheiros, presidente da CTP, diz que as expectativas que o PRR cria no sector e nas atividades económicas relacionadas com o turismo, para o verão de 2021 e o ano de 2022, são negativas.

“Infelizmente, o PRR ignora uma das mais importantes atividades económicas do país que é o turismo, relegando-o para um plano secundário, tal como outras atividades empresariais que geram riqueza, captam investimento e criam emprego”, afirma o presidente da CTP.
Desta forma, diz, as expectativas quanto ao seu impacto no sector que representa “são muito baixas”.

“Acredito que o turismo irá ser o principal motor da recuperação económica do país, mas continuará a depender da capacidade de resiliência e empenho já amplamente demonstrada no passado, dos nossos empresários e profissionais”, refere Francisco Calheiros.

Quanto às previsões que a CTP tem para o início da retoma da atividade económica, já com desempenhos equivalentes aos que o mercado tinha antes da pandemia de Covid-19, a análise de Francisco Calheiros tem várias componentes: “A retoma da atividade estará sempre dependente do controlo da pandemia, do plano de vacinação e da abertura das fronteiras e consequente retoma das ligações aéreas, sobretudo, com mercados importantes como é o caso do nosso principal emissor (o Reino Unido) ou dos que apresentam grande potencial de crescimento (os Estados Unidos da América)”.

Isso significa que “a recuperação será gradual e em linha com os fatores que mencionei. Julgo que o regressar aos números de 2019 só será possível depois de 2022”, considera o presidente da CTP.

Algarve muito afetado
Um dos maiores problemas do sector é o da crise vivida no Algarve, exigindo soluções que possam minimizar este problema. “A situação é crítica e preocupa-nos muito. Nos dois primeiros meses do ano, foi a região – que tem uma economia muito assente no Turismo –, que registou maiores quebras no que se refere a dormidas”, refere, sublinhando que, no conjunto dos dois meses, foram menos 87,6%”, diz Calheiros.

Acresce que a avaliação que a confederação faz às regiões de Lisboa e do Porto – “dois destinos turísticos com elevada procura e duas importantes portas de entrada do país” – é negativa. “O impacto da pandemia é naturalmente grande nestas regiões, porque sofreram uma grande redução de procura, uma vez que os turistas tendem a procurar destinos com menos aglomeração de pessoas”, refere o presidente da CTP.

“Há atividades que estão paradas há mais de um ano, como é o caso dos bares e discotecas e eventos de animação turística”, acrescenta, considerando que “reverter esta situação é um grande desafio” para o sector. “Acredito que será vencido com mais medidas de apoio da parte do Governo e com o habitual esforço e empenho por parte dos nossos empresários”, aponta.

Resta saber se o contributo dos mercados português e espanhol conseguirá atenuar em 2021 e 2022 os efeitos nefastos da crise vivida pelo sector do Turismo nacional. “São naturalmente dois mercados importantes, que nunca podemos subestimar, mas que, mesmo juntos, nunca substituirão o importantíssimo papel do Reino Unido, França, Brasil ou Alemanha na procura turística. Precisamos de todos para retomar os números pré-pandemia”, adverte o presidente da CTP.

 

AHP: retoma só em 2024
Também o presidente da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, Raúl Martins, tem vindo a dizer que a recuperação da hotelaria portuguesa para valores de 2019 apenas se conseguirá concretizar em 2024, porque, para isso, será preciso registar 35% de ocupação nas unidades hoteleiras e esse nível implica que Portugal recupere metade dos passageiros que desembarcaram no país em 2019, “o que só virá acontecer em 2022”, segundo Raúl Martins.
A Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve – AHETA na informação relativa a março de 2021 refere que a taxa de ocupação global média/quarto foi de 5,2%, enquanto a taxa de ocupação global média/cama foi de 2,9%.

A AHETA explica que a taxa de ocupação registou o valor mais baixo de sempre para o mês de março, refletindo uma descida de 81,2% relativamente a março de 2020 e a uma descida de 89,9% relativamente ao mesmo mês de 2019.

Num comunicado, o presidente da NAV, Manuel Teixeira Rolo, afirma que “é cada vez mais evidente que a crise provocada pela pandemia não é algo passageiro, sobretudo no setor da aviação, onde as ondas de choque da interrupção abrupta dos fluxos de tráfego se continuarão a fazer sentir por vários anos”.

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