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Conferência anual da AIMMAP: “Não se percebe porque Portugal não cresce mais”

O tema da conferência é a descarbonização, mas Vítor Neves, presidente da AIMMAP, não pôde deixar de afirmar que os investimentos processados deviam estar a ser bem mais produtivos. E reprodutivos.
4 Junho 2025, 15h38

A descarbonização e o seu roteiro, um projeto da associação, “uma questão fundamental”, é um dos temas que está na linha da frente das preocupações da indústria, disse Vítor Neves na conferência anual da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), a decorrer no Porto e da qual o Jornal Económico é media partner. Vítor Neves, presidente da Direção da AIMMAP, afirmou que o tema dos investimentos e incentivos “é igualmente muito importante, dado que Portugal tem acumulado défices de investimento” tanto em termos de financiamento público como privado: “estamos atrás da média europeia e dos países que concorrem connosco”.

“Se não investirmos mais, a economia não vai crescer”, assegurou. “O PRR só está a 35% da sua execução”, o que não é um bom sinal, afirmou. “Processos demasiado burocráticos não facilitam. As entidades estatais têm timings diferentes dos que a economia necessita. Nos últimos meses, houve uma melhoria”, reconheceu, ficando Vítor Neves à espera que tudo tenda a melhorar.

De qualquer modo, com tudo o que está a ser feito, com o financiamento do PRR, “não percebo porque é que a economia portuguesa não está a crescer mais. Não estamos a tirar partido dos investimentos”.

Um terceiro tema – a digitalização e a Inteligência Artificial – “está também em cima da mesa. É uma oportunidade única para rompemos este ciclo de estagnação”, afirmou o presidente da AIMMAP. Importante também é “percebermos onde estamos a alocar investimentos”, sob pena de as verbas estarem a ser dirigidas para áreas pouco produtivas.

Carla Gonçalves, responsável da AIMMAP que está intimamente ligada ao roteiro da descarbonização, apresentou o ‘estado da arte’ do que tem sido feito em termos ambientais. Com objetivos claros, mas difíceis de atingir, o roteiro para o setor “tem como objetivo promover a mudança de paradigma relativamente à utilização de recursos e promover as novas tecnologias e combustíveis mais amigos do ambiente”.

Para além do roteiro para as empresas, as ações de capacitação a nível nacional e a criação de uma plataforma digital de partilha de boas práticas e soluções estão alinhadas com os objetivos.

O primeiro passo foi a realização do diagnóstico do setor, que resultou de um inquérito e que serviu para a identificação de prioridades – essenciais num setor que se chama ‘metalúrgico’. Metas e trajetórias foram alinhadas com os planos nacionais de redução de emissões de carbono. Acabar com 72% dessas emissões até 2050 é a meta.

Carla Gonçalves chamou a atenção para o facto de que os objetivos não são todos apenas da responsabilidade da indústria – ou de qualquer indústria – o que permite um alinhamento essencial.

A estratégia de descarbonização inclui: melhoria de eficiência energética; substituição de combustíveis fósseis; digitalização; alinhamento com a economia circular; visão da indústria como ativo no sistema energético; e captura de carbono. Foi desta forma que a AIMMAP compreendeu o seu papel fundamental no sistema global (que talvez ainda seja mundial, apesar das ameaças) de descarbonização.

Um caso prático

Carlos Teixeira, CEO da CHETO Corporation, apresentou o ‘seu’ caso prático. A empresa fabrica centros de maquinação profunda – que exporta 95% do que produz para mercados exigentes e altamente regulados – e, nesse contexto, disse que os princípios de gestão ambiental são mais do que uma opção: são ferramentas de concorrência, sem as quais nem sequer sairia de portas. Um investimento significativo foi feito nos últimos anos, nomeadamente em termos de consumo energético – que passou pelo autoconsumo, pela substituição de veículos e por toda uma postura de alinhamento com a poupança energética.

É neste contexto que se inscreve a preocupação da empresa no segmento da logística sustentável: construindo enormes máquinas, da CHETO não sai nenhuma peça que não caiba nas medidas algo restritivas dos contentores transportáveis em condições normais em vias normais. Mas, como chamou a atenção Carlos Teixeira, “a sustentabilidade faz parte da cultura da empresa” – o que implica que todos os colaboradores estejam alinhados no mesmo objetivo.

Veja aqui a conferência:

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