Uma das principais lições que esta pandemia nos vai deixar para o futuro é o dever patriótico, enquanto gestores, empresários, consumidores e políticos, de trabalhar para construir uma economia mais equilibrada, menos dependente e mais resiliente. Menos dependente das importações, em particular em bens que sabemos e podemos produzir.

Equilibrada para não dependermos excessivamente de determinados setores económicos, como por exemplo o turismo, que em 2019 representou cerca de 20% das exportações e 58% das exportações do total dos serviços. Equilibrada para garantir que temos capacidade de produzir os bens que nos faltam numa situação de emergência, apenas porque as cadeias de distribuição foram interrompidas ou porque a lei da oferta e da procura funcionou com uma eficiência demasiado perfeita.

Pode-se questionar como foi possível ter sido desenhado, testado e construído em Portugal, um ventilador em 45 dias, quando antes 100% dos ventiladores utilizados nos hospitais nacionais, públicos e privados, eram importados. Ventilador este, que para além de suprir as necessidades nacionais, poderá ser exportado no futuro.

Percebe-se, afinal, que importamos porque não produzimos. E se não produzimos não existe mercado.

Naturalmente que o mercado não funciona desta forma simples, mas o exemplo serve para demonstrar que Portugal é muito mais do que apenas turismo. Claro que o turismo cumpriu um papel fundamental e decisivo no pós-crise financeira, como alavanca de uma recuperação que ficará na nossa história, suportada em larga escala na iniciativa privada, tanto do lado do investimento como do consumo. E se alguma lição nos ficou da bancarrota de 2011, será exatamente esta:  a capacidade de nos reinventarmos e de renascermos. Veja-se os milhares de novos negócios que foram criados, gerando milhares de empregos antes perdidos.

Portugal é hoje um centro de competência. As nossas universidades atraem alunos de todos o mundo e oferecem uma formação de alto nível. Formamos excelentes técnicos e bons gestores. Largas dezenas de multinacionais têm hoje os seus centros de serviços, de operações e tecnológicos no nosso país.

Temos boas vias de comunicação e excelentes infraestruturas digitais, clusters industriais líderes globais, empresas tecnológicas de vanguarda, farmacêuticas inovadoras e centros de investigação científica de referência. Temos um ecossistema de startups inovador, vibrante e atrativo para investidores e empreendedores.

O que nos falta, então, para nos tornamos um país mais industrializado?

Antes da pandemia faltava-nos a experiência coletiva de passagem por um processo traumático, de obrigar a um esforço no contexto de uma economia de guerra, de termos que trabalhar e produzir para suprir as necessidades básicas de sobrevivência, proteção e segurança, de sentirmos a efetiva privação do que era dado como garantido.

Se aprendermos bem a lição, esta “guerra” vai ensinar-nos que não podemos continuar a depender das importações para quase tudo. Não tenhamos dúvidas que o futuro nos trará algum protecionismo económico por parte de alguns países, especialmente os mais afetados por esta “guerra”, com impactos na economia global. Portugal não é exceção, com os movimentos de apelo ao consumo de bens e serviços produzidos localmente. Esta é a oportunidade para ganharmos a confiança no futuro, reconstruindo uma economia demasiado dependente do exterior.

A iniciativa privada é absolutamente critica neste processo, reconvertendo negócios, reforçando o que fazemos bem e com qualidade, mas apostando em novos clusters em áreas chave que nos garantam a sustentabilidade e o equilíbrio da economia. Do Estado, esperam-se as políticas públicas adequadas e necessárias, sem as cargas ideológicas que toldam a visão e comprometem o futuro.

A indústria também é tecnológica e digital.