Está encontrado o mote para o argumentário político nas campanhas eleitorais já em marcha: confiança no Estado ou a falta dela. E será grande a responsabilidade que tal implica nas propostas, promessas e credibilidade dos políticos em 2019.
Ao longo de tempos recentes, temos sido confrontados com vários episódios dolorosos onde se concluiu, porventura sem consequências efetivas, que houve sucessivas falhas do Estado aos vários níveis de resposta que os cidadãos esperam das entidades públicas.
A falta de investimento em áreas fulcrais da esperada resposta pública tem-se refletido em acidentes e incidentes com consequências dramáticas, aumentando a expectativa de que outros episódios negativos possam ocorrer inesperadamente, apenas não se sabendo quando. Infelizmente, tal é ilustrativo da crescente perda de confiança dos cidadãos, fruto de sucessivos adiamentos, faltas de investimento e definição incorreta de prioridades.
Falhas como nos incêndios de Pedrógão ou Monchique, roubo das armas da PSP ou o assalto às instalações militares de Tancos, dúvidas na capacidade de resposta adequada do sistema nacional de saúde ou receios de que a segurança social não seja sustentável, fazem perigar a ligação dos cidadãos com a capacidade das entidades públicas em responder em tempo útil às suas necessidades.
Não faltarão anúncios de governantes e autarcas, mas os novos investimentos irão continuar a perder-se num amargurado adiamento. Investimentos em manutenção não têm o impacto de obras novas, mas ambas são necessárias. A questão resume-se sempre à respetiva prioridade.
As glosadas cativações assumem nos últimos anos o símbolo e o sinónimo do não prioritário, do prescindível e do adiamento político. Claro que nem todas as falhas podem ser imputadas às cativações do Ministério das Finanças. Mas se em determinado momento foram assumidas como necessárias, mas sempre adiadas sem prazo, o que cedo ou tarde implicará numa consequência que pode ser nefasta e não desejada.
Não se trata de dolo, pois nenhum governante nacional ou local age prevendo um desastre. Mas cada decisor político tem de ter a consciência de que as suas opções – por ação ou inação – podem ter como resultado um indesejado acidente com consequências muito gravosas.
Em tempo de campanha eleitoral muito facilmente se prometem soluções para todos os problemas. E neste ano de 2019 vamos estar em campanha eleitoral permanente até outubro. Os cadernos de encargos das candidaturas devem assumir a esperada ambição para garantir a adesão popular e não podem dar azo que daí resulte publicidade, ao invés de seriedade.
O novo paradigma da resposta política e pública, face aos desafios de 2019, assenta na forma séria como as respostas são assumidas. O que deve contar é a convicção de conseguir mais do que a capacidade de iludir. O contrário está em todos os palcos dos populistas, ao alimentar e explorar de forma primária dores, necessidades e expectativas dos cidadãos.
A responsabilidade está em quem propõe, mas deve estar também no momento em que se convocam os cidadãos para as suas livres escolhas em lhes exigir empenhamento e ponderação. As propostas e os discursos políticos não podem dirigir-se ao presente e ao imediato, pois o exercício de governação é complexo e não pode ser reduzido a uma fábula em que os animais falam. A resposta tem e deve começar por ser séria, credível e convicta.
A confiança ganha-se. E agora não pode haver mais desculpas. Não há tempo, nem oportunidade para tal.