É sabido que, tanto Marine Le Pen como Catarina Martins, pretendem que França e Portugal saiam do euro. A líder do Bloco de Esquerda chegou a dizer, em Março, no final da reunião da Mesa Nacional do BE, que “é urgente preparar o país para o cenário de saída do euro ou mesmo do fim do euro”.
Nesse dia foi mais longe. Chegou a declarar que Portugal “tem de ter capacidade de defender a capacidade produtiva da sua economia, o seu emprego e o seu Estado Social”, apontando como prioritária a “reestruturação da dívida soberana, o investimento público, e o controlo público da banca e dos sectores estratégicos da economia”. Não, não era Marine Le Pen; era mesmo Catarina Martins. A líder do BE é da extrema-esquerda portuguesa que, na economia e nas políticas sociais, defende o mesmo que a extrema-direita francesa.
Ao mesmo tempo que diz o que diz sobre o euro e a reestruturação da dívida, o BE fecha com o PS um relatório sobre a dívida pública que propõe mais ou menos o mesmo que PSD e CDS advogaram no decorrer da anterior legislatura. O que era uma submissão à Alemanha, é agora perfeitamente aceitável. Alguns jornais registam a diferença, mas ninguém, jornalista ou político, confronta Catarina Martins com a verdade que é a mentira do BE.
Há anos que o BE mente aos portugueses, tal como a Frente Nacional faz aos franceses. Mas se em França, Marine Le Pen é confrontada com as suas incoerências, em Portugal nada se passa. Por cá, a impunidade ideológica grassa. É essa impunidade que permite à extrema-esquerda dizer as maiores atrocidades e de seguida fazer o oposto como se nada fosse.
Desde Novembro de 2015 que vivemos num pântano silencioso. É o regresso do pântano de que Guterres fugiu, exilando-se numa instituição humanitária. O silêncio que pactua com o que está errado, porque é conveniente; por ser inconveniente desafiar as prioridades estabelecidas pelas elites que subsistem num país manso, silencioso, pacato e ordeiro.
O silêncio tem ainda outra consequência nefasta: apaga a verdade. Tal como no Estado Novo sobre o futuro do império, também agora a maioria crê no que lhe mostram e não se questiona. Quando não se pergunta, não se pensa. A Alemanha ganha com o euro porque sim e não porque fez reformas que nós recusámos. Não foi a austeridade, ou melhor, um mais sério controlo dos gastos do Estado que reduziu o desemprego, mas este Governo apoiado pelo PCP e pelo BE.
A maioria acredita porque quer, embora saiba que não é verdade. Quando a verdade não existe, o país vive uma realidade alternativa criada pelos que governam em prol das consciências dos que se deixam ir. Este silêncio só termina quando cada um de nós, em consciência, o recusar e exigir melhor.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.